Sorrisos falsos

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Acho tão ruim ter que fingir. Fingir que estou num dia bom, sorrir, falar abobrinhas e ser agradável. Têm dias que tudo que quero é ficar em casa, escondida do mundo, de pijama, descabelada, comendo um pacote de bombons e deixar o telefone desligado. Ler um livro, assistir um filme, não ler livro algum, não ver nada na televisão. Ficar de pernas pro ar. Sozinha com os pensamentos. Dar corda para a imaginação. Criar historinhas. Ser insana. Sórdida. Colocar o lado mau pra fora. Ser frágil. Chorar com a cabeça embaixo do travesseiro. Beber uma garrafa inteira de vinho, ficar com as bochechas rosadas e encher os ouvidos da melhor amiga. Em alguns dias dá vontade de sumir, fugir, dar no pé, se mandar, escafeder mesmo. Ficar perdida em devaneios. Imaginar uma outra vida ou não imaginar coisa alguma.

O fato é que temos dias bons e ruins. Nos dias ruins faço isso: quero ficar na minha, quieta, sem falar com ninguém, me esconder. Meu travesseiro é a minha proteção. Nos dias ruins quero ficar comigo e poder ser quem eu quiser. Pensar no que eu quiser. Fechar as portas para o mundo.

O problema é que sempre existe um chato. Um mala que te liga cem vezes. Tu não atendes, mas o mala insiste (chatos, malas, pentelhos e etc. são totalmente persistentes). O mala vai à tua casa, é inconveniente. Gente chata é inconveniente mesmo. E aí a criatura pergunta o que tu tens. Porra, a gente não tá a fim de falar. Quer ficar só. Simples assim, certo? Errado. O malão não acha nada simples. O chatonildo não se manca.

Às vezes, nos dias ruins, temos que sair de casa por um motivo ou outro. E aí...bombardeio de perguntas. Que cara é essa? O que houve? Tá triste? O que aconteceu? Eu sei que as pessoas se preocupam e são bem intencionadas (se bem que "de boas intenções o inferno está cheio"). Sei disso, mas nos dias ruins não queremos ser questionados. É só hoje, amanhã a gente sabe que vai acordar bem melhor. Mas me respeita. Me deixa ter um dia ruim. Me deixa sair sem maquiagem. me deixa no meu canto, assim, meio autista. Não me pergunta nada, nem cobra. Me deixa sair bem descabelada. Me deixa escondida atrás do meu óculos. Me deixa em paz.

Passamos uma imagem para as pessoas. E somos, consciente ou inconscientemente, cobrados por isso. Precisamos ser 7 dias por semana, 24 horas por dia aquilo que esperam de nós, o que está no script.

Mas eu quero poder ter um dia ruim, dá licença?

Não quero fingir, sorrir, ser simpática, queridinha e obrigada a fazer social. Não me obriga a fazer isso...tudo tem limite. Me deixa e me respeita porque se eu atingir o limite te mando para aquele lugar.

Sai daqui, fecha a porta e não bate mais hoje. Só amanhã. Não liga mais hoje, não insiste. Só amanhã. Não me pergunta nada hoje, só amanhã.

Obrigada. Agradeço de coração.
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