Ontem à noite
Domingos me deprimem. Não sei bem o motivo, pode estar um dia lindo, um dia feio, um dia meia boca. Posso estar sozinha, acompanhada, dormindo ou acordada: domingo realmente é um dia deprê total. Não há fluoxetina, trileptal, rivotril, qualquer boleta que resolva o problema. Não há cachaça mineira que adiante. Nada. O Brad Pitt pode aparecer na minha frente que meu domingo não muda. Tá, não vou ser hipócrita, se o Brad estivesse num domingo qualquer sentado no meu sofá...hum, talvez mudasse. Um pouquinho só. Se fosse pra escolher, ainda prefiro o Matthew-tudo-de-bom-McConaughey. Alguém me belisca? Voltando para o mundo real: algum vivente sabe explicar a existência dos domingos? A semana podia ser: segunda, terça, quarta, quinta, sexta e sábado. Acabô. Finish. Que nada! Alguém enfiou o domingo no meio. Se eu descobrir quem foi...tu tá ralado, meu amigo! Acabei me perdendo, desculpa.
Domingos me deixam triste, um pouco melancólica, faço uns raciocínios meio fora de órbita, puxo umas lembranças lá do baú patinado da minha avó e parece que insisto em ficar me martirizando. Que horror isso. Será que eu me detesto? Acho que não. Me amo. Às vezes não parece, pois me meto em cada roubada do caramba! Putz, mas esse domingo eu lembrei de ti. Lembrei tanto...lembrei de um jeito, daquele jeito, aquele jeito que me revirou o estômago. Virou do avesso. Foi bem assim: virou do avesso, deu umas palmadas nele, apertou, esgoelou, sacudiu e, com um compasso, fez uma série de furinhos nele. Coitado! Pobre bicho. Lembrei de uma forma que me doeu. E doeu de uma forma que me fez chorar. Quando me dei conta já era tarde. Tão tarde, mas tão tarde. Tudo que eu queria era aquela tua cara de não-te-preocupa-que-eu-estou-bem-aqui. Mas tu não apareceu. Tudo que eu precisava era que tu me colocasse na cama, me desse um beijo de boa noite e me dissesse que eu não precisava mais chorar.
Nada aconteceu. E era tarde, tão tarde...que o domingo se transformou em segunda. E as minhas lágrimas de ontem se transformaram em olheira esverdeada-azulada-meio-roxa-meio-preta de hoje.
It´s too late.
Sobre o blog
Clarissa Corrêa
Clarissa Corrêa é escritora e redatora publicitária.
É autora dos livros Um pouco do resto, O amor é poá, Para todos os amores errados e Um pouco além do resto.
Já foi colunista do site da Revista Tpm, do Vila Mulher e do Donna.
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