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Sempre tive problema com gavetas, nunca pude ver uma gaveta vazia. Inventava qualquer coisa pra colocar dentro dela, às vezes rabiscava em papéis, fazia desenhos, colocava tudo em pastas e o destino era certo (e sabido): gaveta neles! Esse meu hábito se deu na infância, me acompanhou pela adolescência e percebi que não vai mais me largar. Com ele, tornou-se claro um dos meus maiores problemas: esconder as coisas. O jeito expansivo disfarça o que vai lá atrás da alma. O sorriso colado com durex mantém a postura de ok-fica-frio-que-tá-tudo-sob-controle. Só que eu cansei. Quero perder o controle, quero dormir até o meio-dia, quero comer um deserto de chocolate, quero música alta sem vizinho enchendo o saco, quero me sentir só, não quero me sentir só, quero colo de amiga, quero colo de mãe, quero colo de alguém especial que saiu andando e nem deu tchau. Minhas gavetas estão transbordando e não há jimo-cupim que mantenha a ordem na casa. Essa brincadeira de esconde-esconde se tornou chata, acende a luz, não quero mais, chega, pára. Sério, pára. Senão eu vou chorar e vou chorar muito e aí os vizinhos virão bater na porta pra perguntar o que está havendo nessa casa de malucos em que a música está estourando as caixas de som e tem uma criatura berrando feito louca fugida do hospício. Gavetas cheias, invenções nelas. Coração cheio, uma forma de engano. Ou seria acerto? Não sei, esse papo de coração que bate, transborda, sangra, ri, chora, aperta, solta, cola, descola, sempre achei um papo meio pesado, tão pesado que me dá arrepios. Nunca gostei de falar muito nisso, prefiro o meu silêncio agora (e sempre?). No fundo, as pessoas pensam que sabem tudo a meu respeito, quando não sabem é nada. Na verdade, acham que me conhecem muito, quando não percebem um terço do que se passa dentro de mim (sorte, azar?).Eu nunca quis ser previsível...com licença, está tudo uma bagunça por aqui. Preciso dar um jeito nas gavetas.
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