Amor absurdo

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Durante muito tempo vivi a minha vida buscando uma coisa que nem eu sabia o que era. Por mais feliz e realizada que eu estivesse algo me faltava. Nunca soube definir ao certo o que era aquilo, mas sabia que era uma coisa importante e especial. Uma coisa mágica.

Não é tão fácil-como dizem-ser independente. Não é simples tomar decisões. Librianos são confusos, vivem numa dúvida constante e são um tanto impulsivos. Hoje eu quero, daqui a pouco já nem sei. Funcionamos assim e vivemos bem, obrigada. De vez em quando derrapamos, deslizamos, mas sempre paramos no acostamento e recarregamos as energias e baterias e seguimos viagem. Somos estranhos, eu sei. Mas vemos uma beleza no mundo de uma forma que ninguém mais vê. Temos olhos críticos, alma justa e fé no hoje, além de fazermos parte de um universo magnificamente belo e que possui um imã que nos atrai para as artes em geral. Não estou falando de signos, nem de libra, nem do horóscopo de hoje, talvez eu esteja apenas justificando o meu quê de loucura com essa divagação fajuta a respeito dos meus tropeços deliciosamente bonitos.

Meu coração é bebê. Vezes pequeno, vezes chorão, vezes risonho. Minha vida é de gente grande e eu me sinto gente pequena. O que eu faço com isso? Desde criança eu sinto que estou aqui por algum motivo, tenho que concretizar uma coisa que eu não sabia qual era, mas sabia que tinha e que era necessário e que eu precisava ter prioridades e que precisava ir e ir e ir e chegar. Chegar em algum lugar. Cresci e meu coração bebê continuou bebê, aprendeu a engatinhar, deu os primeiros passos e resolveu continuar criança. Vezes pequena, vezes chorona, vezes risonha. Tudo bem, coração: continue vivendo no mundo dos pequenos. Criança é doce, travessa, pura, inocente. Fique aí mesmo onde está.

Alguns anos passaram e eu me olhei no espelho e vi que meus olhos têm um brilho diferente. Eu sei. Eu descobri. Eu posso contar agora. A minha vida é mágica. Mágica como um sonho bom que dá vontade de fechar os olhos e seguir sonhando e sorrindo por tempo indeterminado. Meus motivos estão todos nas minhas mãos. Meus desejos são todos reais. Meus sentimentos são os meus bens preciosos. Meus dias são uma melodia suave com cheiro de cânfora e hortelã. Interessante, eu posso sentir o cheiro da hortelã: ela invade e faz com que um som apareça como raio. Raio e estrela. Sempre tive medo de raios, hoje não: eles trazem a certeza de que os dias não serão iguais. Olhei o meu reflexo e vi que vou ter sempre esse lado louco e que pensa e que desaba e que ressurge e que não escreve linha com linha e que escreve bem e que não sabe descascar laranja.

É muito fácil escrever coerente, escrever decente e escrever lindamente. Fazer rima chata também é fácil. O difícil é agir de uma forma honesta, mas isso eu sei. Nem sempre faço o certo, mas eu sinto honesto. E falo o que eu consigo. Na verdade acho que o mais difícil hoje em dia é sentir decente e lindamente. Sentir coerente? Nunca. Nenhum tipo de sentimento faz sentido. E nem tem que fazer. Emoção é pra ser louca mesmo. Insana. Um pouco devassa. É pra remoer, apertar, acalmar.

Hoje eu sei. Sei que posso viver com todo mundo, mas preciso de mim. Hoje sei que posso precisar muito de você, mas preciso que eu seja a minha melhor amiga. Hoje eu sei que sentimento nenhum no mundo é mais puro e verdadeiro do que aquele que eu sinto por mim. Me amo absurdo. Hoje eu sei que eu sempre busquei entrar em contato com o mais profundo de mim: o meu silêncio. Hoje eu sei que meu coração criança tem que andar de mãos dadas com a minha vida adulta: não é tão complicado caminhar. Hoje eu sei que pra te amar preciso me enxergar. E eu me enxergo muito bem: hoje eu sei.
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