De vez em quando bate um medo, será que eu desaprendi? Pode ser pior: talvez eu nunca tenha aprendido. Você não sabe o quanto é difícil falar de mim, apesar de me expor, de me mostrar tanto, de dar a cara pra bater eu nem sei se alguma vez já cheguei pra alguém e olhei no fundo dos olhos e disse "te gosto". É simples, eu sei, mas dói. Você fica sem roupa, sem nada, totalmente livre, perdido, sem máscaras, sem proteções. Vulnerável. Não gosto dessa vulnerabilidade e dessa perda de controle. Amar nada mais é que perder o controle, não ter domínio, fechar os olhos e ir, ir, ir. Na hora de fechar os olhos e ir eu volto. Depois quero continuar da onde parei e a vida vai passando pra mim, pra você e eu te quero tanto que talvez já tenha acostumado a só querer. É pouco, muito pouco, não posso me contentar com isso. Sempre gostei do muito, do tudo. E hoje fico só olhando uma foto meio amarelada, cheia daquele pó fininho e que me passa uma sensação boa, mas tão boa, pois você tá com um sorriso tão puro que me enche de coisas que nem sei contar, aquelas mesmas coisas que deixei de dizer pra você. Vivo procurando as palavras certas e, nesse intervalo de tempo, os dias me roubam você. E se não existir o momento certo? Tudo que deixei na garganta quero falar agora, agora que é tarde e você dobrou na outra rua. Eu esperava que voltasse, que ficasse, que ouvisse. E eu não pedi, não falei, não enxerguei. Então quero jogar o rascunho fora e escrever uma história nova. Será que pode? Antes que você vá preciso dizer: escrever sempre foi mais fácil, mas nas minhas linhas você não enxerga a expressão do meu rosto, não ouve o tom da minha voz, não escuta meu coração desamparado e não percebe que só de pensar em tudo isso minha respiração fica nervosa. Visualizei a cena: eu olho pra dentro de mim e digo tudo vendo o que tem dentro de você. Sem deixar uma linha do passado pra trás. Sem deixar que o presente me atropele. O futuro? Juntos (vi)veremos.
Sobre o blog
Clarissa Corrêa
Clarissa Corrêa é escritora e redatora publicitária.
É autora dos livros Um pouco do resto, O amor é poá, Para todos os amores errados e Um pouco além do resto.
Já foi colunista do site da Revista Tpm, do Vila Mulher e do Donna.
Os mais lidos
-
(Em outras palavras: na hora do aperto a gente apela para a autoajuda, birita, ombro dos amigos, livros bestas e músicas cafonas.) Por algum...
-
Não gosto de quem posa de inteligente, culto e letrado. Mesmo porque por mais inteligente, culto e letrado que você seja, cá pra nós, tenho ...
-
Sou forte demais para me entregar e fraca demais para suportar alguns fardos sem derramar um punhado de lágrimas. De vez em quand...
-
Já faz algum tempo que não sei mais o que fazer. São muitos desajustes que borbulham aqui dentro. No peito, um tremor que só assusta e...