Antigo costume

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Lua cheia, drinks coloridinhos e risadas. Ontem eu estava lá, lá no meio daquela gente toda, falando aquelas coisas todas, rindo das bobagens todas, comentando o que tenho feito nos últimos dias e lembrei do esforço pra não pensar em você. Sabe, nem é difícil. Se eu me ocupo o dia todo vou deitar cansada e passo a perna naqueles pensamentos que ficam rondando a minha cama vazia. Meus pensamentos se unem bem na hora de colocar a cabeça no travesseiro, parece que eles fazem um complô com o intuito de trazerem você de volta. Então eu percebo o quanto a cama está vazia, me dou conta que por ali não tem mais nada seu. Nem o cheiro, nem uma peça de roupa, nem um qualquer coisa que deixe claro que você ficou aqui. E você esteve mesmo aqui em algum segundo? Como eu dizia nem é difícil, se eu vou pra cama exausta adormeço passando a perna em tudo que traz você pra mim novamente, mas têm vezes que eu sonho com você. Aí eu levanto, tomo uma água e penso chega chega chega, vai embora, sai de mim, me deixa, vai, vai e não olha pra trás nenhuma vez, acabou, não é mesmo? Então vai e deixa as chaves em cima do sofá. Se eu, pra adormecer, tenho que ler ou assistir um filme ou escrever ou ouvir música ou qualquer outra coisa que faça o sono chegar não tem jeito. Você chega sem cerimônia sorrindo e, junto com o sorriso tímido, os olhos que ficavam apertadinhos. E eu vou ficando bem pequena, diminuindo diminuindo até virar quase nada, pois não tinha nada mais belo nesse mundo do que ver o seu sorriso de menino descobrindo o mundo e aquele sorriso iluminava tudo que houvesse ao redor, clareava a minha alma, me trazia uma paz tão grande que nem sei como explicar pra você isso agora. E junto com aquele sorriso os seus olhos se tornavam pequeninos e você ficava mais lindo do que tudo que eu já vi e conheci no mundo. É tão simples, entende? Era pra ser tão simples e tão bonitinho, era pra ser até piegas e cafona. Era pra ser brega mesmo. E eu fico aqui me repetindo e não me canso de dizer o quanto você me fazia bem quando apertava os olhinhos daquela maneira, aquela que ainda me chacoalha por dentro. Eu estava tão acostumada a pensar em você, já era corriqueiro te querer assim, mesmo só pra ficar querendo. Você virou uma espécie de deus, com o qual eu conversava, pedia, implorava. Não faz assim, não faz assim, cuidado com o que você diz. Cuidado com as coisas que você não faz. E você nunca me ouviu, maldição, você nunca me ouviu. E eu sempre te ouvindo, você e aquela voz mansa, rouca, suave e aqueles olhos que diziam tantas coisas e, ao mesmo tempo, me traziam tantas dúvidas. Desde o momento em que eu te vi te quis errado. Te quis inteiro. Te quis pleno. No fundo eu bem sabia que você nunca me daria certezas, mas eu insisti em me meter em territórios desconhecidos. Pra quê? Pra você virar esse deus que atormenta cada pedaço que ainda existe em mim? Sei lá, talvez eu queira um amor imóvel e sereno, platônico e louco. Ou talvez meu grande sonho seja erguer uma estátua sua no meu jardim de inverno. Então eu ajoelho, faço orações, qualquer tipo de oferenda e, suplicando, peço: não me deixe!

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Mas você precisa me deixar.

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Já está tarde.
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