Brilha, brilha estrelinha

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Lamento informar, mas acredito que algumas coisas jamais mudarão, por mais analisada que você seja. Por mais madura que esteja. Por mais calejada que possa parecer. Tem gente que se disfarça ou, ainda, se ajusta-adapta-molda ao contexto. Eu não.

De vez em quando invento verdades bonitas, comigo é tudo na base do encaixe. Ajeita aqui, retoca acolá. Gosto de comprar brigas e saio sangrando. Me dilacero de forma consciente. Sou criança, choro fácil, às vezes preciso que alguém segure a minha mão e, quando assisto filmes de terror, preciso que alguém segure a minha mão e me leve até o banheiro. E me espere na porta. E me coloque na cama. É só um filme, só um filme.

Não tenho vergonha de soltar gargalhada no meio da rua. Não choro na frente dos outros, minhas lágrimas preferem a solidão. Não sei direito muita coisa, mas consigo enrolar todo mundo com a minha lábia sagrada. De vez em quando omito verdades feias, é preciso manter a beleza da coisa. A beleza da coisa às vezes dói. A saudade às vezes dói. A vida às vezes dói. Às vezes tudo dói e não sabemos ao certo que dor é essa, da onde vem, se tem sobrenome, apelido, RG. Mas dói. E é preciso procurar um remedinho pra fazer passar, esperar e seguir adiante.

Me chamaram de estrela e disseram que sou temperamental. Que tenho crises de sou-uma-atriz-da-Globo-cheia-de-glamour-e-recebo-mais-cartas-que-as-mimosinhas-da-Malhação. Até que eu gosto de sair, mas não suporto empurra-empurra-e-gente-suada-e-desconhecida-encostando-o-braço-a-mão-ou-pedaços-do-corpo-no-meu-corpinho-perfumado, por isso sou antipática e fresca. Faço um ar blasé-proposital-número-cinco pra quem merece e precisa levar um sacode, então sou arrogante, petulante, pedante, irritante. Obrigada, Brasil. Chamo a atenção sem precisar andar quase-pelada-que-nem-as-biscates-noturnas-diurnas-madrugadurnas, então sou metida, convencida, exibida, ida, ida. Volta, volta, Deus me deu alguma notável beleza, perspicácia, humor refinado e, de quebra, inteligência usável e sem data de vencimento, então me desdenhem e me olhem com cara de nojinho, blé. Estrela, estrela. Apesar de tudo, eu gosto. Gosto de ser quem eu sou, se alguém não gosta de quem é, análise. Se alguém não gosta de quem eu sou, análise. E tratamento de choque. Se isso é ser estrela, ok, eu me rendo, sou star. Algumas coisas não mudam e, por mais que você queira, minha essência vai continuar sendo a mesma.

(e não adianta apagar a luz, o brilho é que nem fantasma: te segue e puxa os pés no meio da escuridão)


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