Não trabalhamos com fingimentos

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O sonho de cada indivíduo é a felicidade em todos os setores da vida. Trabalho perfeito, amigos perfeitos, amores perfeitos. Só que todo mundo sabe que nada disso ocorre na prática, nada é perfeito, dã. O grande problema é que muitos, muitos e eu disse muitos insistem em vender essa imagem toda-maravilhosa-da-vida. Isso realmente me incomoda.


Pode soar estranho, mas minhas verdades beiram a estranheza mesmo: não confio em gente feliz. É verdade, digo bem alto, não confio e ponto. E pronto. Sabe aquela pessoa que acorda com um sorriso e você pergunta se tá tudo bem e ela permanece sorrindo e caminha como se estivesse em um clipe da Ivete Sangalo? Não confio. Aquela que sempre diz que o relacionamento é ótimo, que encontrou a alma gêmea, que é uma sortuda profissionalmente, que tem centenas de amigos. Acho tudo um blá blá blá furado e de oitava categoria.


Ninguém é sempre bonzinho e distribui olhares doces por aí. Eu cobro por cada sorriso, não fico esbanjando simpatia quando tô com um humor pitbullesco. E acordo sem vontade de falar, nada de gracinha de manhã cedo. Não sou sempre amável e serelepe, por sinal eu odeio gente sempre amável e serelepe. Não acredito em quem tem milhões de amigos. Conhecido tudo bem, amigo mesmo é difícil, não me venha com essa. Odeio quem força amizade, pra ser meu amigo não é assim não. Não vem chegando e sentando, tem que saber se o lugar está vago.


Não conte mentiras. Nenhuma relação, por mais intensa que seja, é cem por cento. Essa coisa de alma gêmea até acho que existe, mas não seja tão romântico: até a sua alma gêmea se estressa no trânsito, no trabalho, com o avô, com o amigo, com você. Pessoas se diferenciam em personalidade, educação, criação, comportamento; não existe gente igual, só parecida, afinada, sintonizada. Acho que tem gente que se confunde mentalmente, troca as bolas.


Alguns gostam de vender essa imagem da felicidade, eu não acredito, pode colar o sorriso com durex, pode contar as alegrias da vida, pode tudo. Por sinal, lá vai uma dica: aquele que vende o papel-sou-bem-faceirinho jamais conta detalhes íntimos. Adivinhou o motivo, né? Detalhes íntimos envolvem a briga com o gerente do banco, o stress que deu com o noivo por causa da ex-namorada dele, a mãe que não foi vacinada contra a raiva, e por aí vai. Inseguranças, insatisfações, incertezas não fazem parte da vida de gente feliz. Mas a mentira sim, pode crer em mim. Gente feliz não faz rima sem graça.


Gentes felizes têm uma particularidade: a doçura. Oi amada, oi querida, oi amiga, oi mimosa, oi charmosa, oi linda, oi, oi. Tchau pra vocês. Tenho pânico de povo não íntimo me chamando com vozinha doce de alguma coisa que nem sabe se eu sou de verdade. Sou amável, meiga, carinhosa sim. Quando eu quero, com quem eu quero. Sou feliz também, quando é pra ser. Mas ninguém é tudo o tempo inteiro. Só quem usa máscara. E eu detesto disfarces, apesar de me esconder de vez em quando. Mas é isso: prefiro me esconder do que fingir. Você se esconde, a poeira vai embora e tudo volta ao normal. Se tem que ficar e encarar também ficamos e encaramos. Só não fingimos sentimentos, não conseguimos.





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