Coisas que ninguém vê

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Na Páscoa você come muito chocolate e o resultado são alguns quilinhos a mais, porém o grande vilão é o Senhor Inverno. Ele é um cara violento, precisamos nos proteger com casacos, cachecóis e blusões de lã. Para amenizar os seus efeitos gelados nos munimos de chocolate quente, fondue, massas, bolos, vinhos e tortinhas fabulosas. O resultado são quilões a mais, o efeito é devastador. O que atenua são os casacões, que geralmente escondem tudo...ou quase.


Quando você olha no espelho, epa, problema. Depois do inverno vem a primavera, como você sabe. Blusa mais levinha, de repente uma jaqueta jeans, um casaquinho. Mas eles estão lá, aparecendo, dando as caras, cumprimentando quem entra e quem sai. Pirelli. Pneus de alta qualidade. Depois da primavera vem o verão, o inferno astral de quem comeu demais perto do fogo da lareira. E agora, José? O inverno acabou, a luz acendeu, o povo apareceu e está mostrando o corpo na areia da praia.


A mulherada enlouquece quando setembro ameaça ir embora, é o momento de malhar quatro horas ininterruptas, tomar Sopalev, ingerir vinte xícaras de chá verde e fechar a boca, tem gente que engorda até com o vento. Não sejamos preconceituosas, os homens também passaram a se cuidar mais. A homarada enlouquece quando setembro ameaça ir embora, é o momento de jogar muito futebol e começar a pensar em emagrecer, o calor está chegando e a barriga tem que estar preparada para receber a loira preciosa e mais desejada de todos os tempos: cerveja. Gelada, por favor.


Verão. Todos prontos, corpos em dia, férias. Algumas coisas não mudam. Alguém passa a mão na sua barriga e, os quatro Pirelli estando ali ou não, você encolhe. É automático, até a Giane Albertoni deve encolher a barriga e prender a respiração até ficar roxa quando uma pessoa passa a mão na barriguinha inexistente dela. Acho que os homens são mais tranqüilos quando o quesito é imperfeição ou perfeição desregulada. Nós, mulheres exigentes, somos um pouco neuróticas.


Uma amiga estava no bem-bom-muito-bom com um cara, você sabe o que eles estavam fazendo. Ela não aproveitou nada, preocupada com o que podia estar ou não flácido e me disse que chegou em casa e foi para a frente do espelho. Refez a cena sozinha e se balançou, ficou horrorizada: a minha bunda sacode demais, que vergonha. Morri de rir, mas confesso que depois fui para a frente do espelho sacudir a minha bunda. Pânico total. Nunca mais faço acrobacias bem-boas-muito-boas. No outro dia ela me ligou: e a celulite? Ele deve ter se espantado quando viu que fui atropelada por um caminhão de celulite, meu Deus, o que eu faço? E as estrias? De luz acesa se vê tudo, tudo!


Tenho um amigo radical que afirma: homem que sabe a diferença entre estria e celulite é meio gay. Homem que repara a celulite e as estrias enquanto está em um, dois, três, ação é total gay. Resolvi fazer uma pesquisa entre os homens que eu conheço. Alguns sabem o que é celulite, outros não; o mesmo acontece com as estrias. A pesquisa constatou, entre os homens heterossexuais, que nada disso importa quando eles amam uma mulher, pois simplesmente não faz diferença. Nós é que encucamos com as malditas. Em compensação, quando enxergam uma mulher qualquer na beira da praia eles vêem e reparam em tudo, cada buraquinho da bunda, cada risco que a estria traz em partes inapropriadas.


O remédio é ser amada. E não se olhar no espelho para caçar novos furinhos. E não comer tanto no inverno. E não parar de malhar. E não tomar cerveja. E não abandonar a drenagem linfática. E não mostrar o bumbum para gays. E não usar calça tão apertada. Ah, relaxa. O remédio é não se comparar com as modelos de capa de revista. Cuidar do corpo sim, mas não deixar de ser quem você é.



* texto escrito em 19 de agosto de 2008.
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