Dia do Homem

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Cadê o Dia Internacional do Homem?


Não vou dizer o quão difícil é lidar com os altos e baixos hormonais, retocar a raiz do cabelo de vinte e cinco em vinte e cinco dias, tirar a sobrancelha uma vez por semana, fazer as unhas toda a sexta-feira e hidratação de quinze em quinze dias, depilar pernas, axilas e virilha sabe-se lá de quanto em quanto tempo. No inverno cresce mais devagar, no verão mais rápido, você sabia?


Andar com salto agulha e bico fino da manhã até a noite enche o dedo pequeninho de bolhas e o uso freqüente de salto alto pode ocasionar calos nos pés. Mas, graças a Deus, existe podólogo que, para quem não sabe, é aquele tio que resolve qualquer probleminha que possa surgir nas nossas adoráveis patas traseiras. Tem o creme anti-rugas, o protetor solar, protetor labial, emulsão anti-envelhecimento, creme para celulite, estrias, mãos, pés, joelhos, clavícula. Tem a máscara rejuvenescedora capilar, as vitaminas que fazem o cabelo ficar mais forte, o iogurte natural que deixa a pele do rosto mais saudável e o sal grosso que, além de servir como esfoliante, afasta o mau olhado. Já ia esquecendo da máscara de argila e de pepino, que são ótimas para a face; da mesma forma que as massagens relaxantes e terapêuticas enchem o corpo de vitalidade. Se eu tentar especificar e dissertar a respeito de quantos tratamentos, cremes e produtos de beleza existem vou cansar os dedos.


Tem a tpm. Tensão pré-menstrual. Não pense que ela é exclusivamente antes da menstruação. Hã hã. Começa uns dias antes, os sintomas são os seguintes: irritação em altíssimo nível, sensibilidade exacerbada, dor nos seios, inchaço, dor de cabeça, dor no corpo, lágrimas. E a vontade absurda de comer chocolates. Acredite, é absurda! Choramos com facilidade, ficamos bravas num piscar de olhos. Como eu ia dizendo, começa uns dias antes, chega o dia M (que dura, em média, de três a cinco dias) e a tensão ainda fica mais um tempo. Quanto? Depende, as mulheres não são todas iguais. Tem a menopausa. Não tem idade certa para surgir, mas quando aparece a mulher sente calores insuportáveis, o humor oscila e ela se sente velha. Somos estranhas, reclamamos a vida inteira dos tais dias vermelhos e, quando eles vão embora, continuamos reclamando. Não tente entender, nesse mundo nada é tão complexo quanto os devaneios femininos.


Filhos. O sonho de toda a mulher é ter um filho. Vou reformular: o sonho da maioria das mulheres é ter um filho. Para ficar bonito você namora, fica noiva, casa, planeja uma cria, faz a tal cria, carrega a cria nove meses e buáá, nasceu o pequeno ser. Nem sempre é bonito. Você pode sair uma noite, conhecer um cara, transar, ficar grávida e ser mãe solteira. Também pode namorar, casar grávida e o bebê nascer prematuro. Pode, ainda, descobrir que é estéril. Ou lésbica. Ou virar uma solteirona. Ou prostituta. Ou ter a criança e colocar em um cesto de lixo. Ou descobrir que está grávida de um traste qualquer e fazer um aborto em uma clínica imunda e clandestina. Mas eu estava falando do sonho e no sonho tudo acontece como a gente quer. Imagine uma situação comum: a mulher casa, escolhe o nome do filhinho e, pronto, engravida. Tem enjôo, vomita, engorda, fica um tempo sem transar, dorme mal, se sente pesada, fica com pressão alta e a barriga cheia de estrias, mal consegue trabalhar. Pronto, os noves meses chegam ao fim. O bebê nasce. E o bebê chora. Muito. De dia. De madrugada. Sem hora certa. A mulher vira um zumbi, os peitos se transformam em uma enorme cachoeira de leite, ela não consegue ter tempo nem para respirar.


A mulher tem que se cuidar, tomar conta dos próprios desajustes emocionais (ou terceirizar o serviço e pagar um bom terapeuta), educar os filhos e, ainda por cima, trabalhar. Trabalho, casa, filhos. Cadê o tempo para ler? Fazer ginástica? Estudar? Se divertir com as amigas? Ficar pensando na vida? Jogar paciência? Comprar uma calça jeans nova? Participar de campeonatos de tênis? Assistir aos episódios antigos de Sex and the City?


Você deve ter percebido que, até agora, não citei os Homens. O H foi maiúsculo de propósito. Adoro vocês, não compartilho do “eles são todos iguais”. Alguns são uns cafajestes, assim como algumas mulheres são umas cadelas. Mas não dá para generalizar, nem sair rotulando, não gosto disso. Deixei vocês por último por achar uma injustiça existir um dia só para a mulherada. Ei, vocês também merecem um dia. Por quê? Simples, as mulheres complicam demais. Vocês nos agüentam, isso vale é muito. Mas acho que as mulheres se acham meio vítimas, sofredoras. Oh, coitadas de nós, malhamos, carregamos um bebê no ventre, trabalhamos, cuidamos da casa, do marido, de tudo. Peraí. Ninguém aqui tem superpoderes. Podemos dividir as coisas, as tarefas. Mulher não tem que se sentir obrigada a arrumar a casa. Não pode pagar uma empregada? Vamos estabelecer quem faz o que. Você, querido, coloque a roupa na máquina de lavar. Depois coloque o lixo lá fora. E corte a cebola para o jantar. Pronto, resolvido. Eles não são perfeitos. Mas merecem ser valorizados. Porque diabos as mães se sentem mais donas dos filhos do que os pais? Até onde eu sei, para fazer uma criança é preciso um espermatozóide ninja e um óvulo, certo? Ainda lembro das aulas de Ciências. O feto se desenvolve dentro de nós, mas os bebezinhos alugam a nossa barriga, só isso. Podia ser a barriga masculina. E daí? É por um período curto. Tem o leite. Algumas mulheres nem chegam a amamentar, pois não têm leite o suficiente. Os homens são discriminados, é isso que eu acho. Quem agüenta tpm? Quem compra o chocolate? Quem troca o seu pneu? Quem irrita dizendo “o que tem de diferente no seu cabelo”? As mulheres querem igualdade e reconhecimento? Deveriam começar criando um dia para os homens.


O problema é que tem mulher que pensa que o homem é burro. Ou que vai fazer errado. Entenda: do seu jeito ninguém fará. Cada um tem o seu. E, no fundo, isso é que faz a grande diferença.



PS. Acho besteira essa coisa de Dia da Internacional da Mulher. Sim, existe uma história por trás disso. Em 1910, Clara Zetkin propôs – no II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas – que fosse criado o dia da mulher. Nos anos seguintes o dia 8 de março passou a ser diretamente associado com um incêndio (1911) que ocorreu numa fábrica têxtil em Nova Iorque. Eva Alterman Blay – professora de Sociologia da USP e coordenadora científica do Núcleo de Estudos da Mulher e Relações Sociais do Gênero – publicou um artigo intitulado “8 de março: conquistas e controvérsias”. Lá você pode obter mais informações sobre as distorções a respeito da tal data comemorativa.



* texto escrito em 13 de março de 2008.
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