Sobretudo

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Hoje é um dia de dizer que. É um dia de contar o. É um dia de fazer a. Hoje é um dia de falar sobre. Sobre o quê?, perguntará você. Sobre tudo.




Sobre o lixo - visualmente é horroroso cruzar com uma casca de banana no meio da rua, como foi o caso hoje. Me senti desconfortável e pensei quem-foi-o-sem-noção-que-teve-a-capacidade-de-tal-ato? Na frente de prédios existe uma coisinha de forma retangular ou quadrada que geralmente é de ferro e se chama cesto de lixo. Não é pecado utilizar a cesta alheia, use. Coloque a casca de banana ali, por favor. A natureza agradece. Em algumas ruas ainda temos a opção de vários cestinhos, de tanto em tantos metros. E os cestinhos têm cor. Particularmente, prefiro os azuis do que os laranjas. Ananás atiram pela janela - na estrada - latas vazias de Guaraná. Ananás podem causar acidentes. Ananás é que sujam as ruas, descobri. Gostaria de saber se ananás atiram papel de bala no meio da sala. Ou se ananás limpam a bunda e jogam o papel higiênico sujo no chão do corredor. Alguém responde?


Sobre musiquinhas de celular - eu sei que existe o fenômeno música-do-momento. Também sei que tem gente que ama tanto a música-do-momento que resolve colocá-la no celular - e a música segue numa crescente de acordo com cada toque. Toca uma vez: piririm. Toca duas vezes: piririm-piririm. Toca três vezes: piririm-piririm-piririm. Toca quatro vezes: piririm-piririm-piririm-alguém-ligou-pra-mim?!? E aí a bola de fogo canta e a atolada aparece e eu perco a paciência. Seja discreto, é mais charmoso. Quatro pessoas reunidas vira uma sinfonia sem fim, música daqui, de lá, acolá e mais adiante. Luta musical, que nada tem de estilosa, pelo contrário, acho bem brega.


Sobre a moda - a Gisele Bündchen até pode usar short branco com top branco e bota de vinil branca, já você vai parecer uma vadia. Eu, particularmente, acho qualquer coisa branca na comissão de baixo um terreno muito perigoso. Branco aumenta, engorda, marca, aparece cada suspiro que você comeu no final de semana. Tem que ter corpo pra usar, ou melhor, não tem que ter. Ponto. E bota branca é o fim. Horrenda. Só porque é moda não quer dizer que você tenha que ir atrás. Respeite o seu corpo e tenha bom senso, isso sim é bonito. Isso sim tá na moda. O melhor de tudo? Nunca sairá, é só você se vestir com a palavra noção. Também vale usar como acessório.


Sobre a fofoca - não tome como verdade o que a Fulana disse. A Fulana não é Deus. E eu acho que até Deus se engana, do contrário ele não teria criado o sujeito que inventou o sapato caramelo. Nem teria criado gente sem educação. Fofoca é bola de neve, daqui a pouco você só fala uma coisinha e acaba levando a coroa de Rainha do Falatório. Cuidado, cuidado, cuidado.


Sobre o amor entre iguais - Marcos é gay. Deixa ele, pô. Cada um faz o que quer com o seu corpo e coração, desde que respeite o outro. Não tenho nada contra lésbicas, desde que não venham me encher o saco. Boiolagem afetada me incomoda um pouco, gosto de quem fala sem miados, chiados ou bichices crônicas.


Sobre amigos homens - é possível ter amigos homens, não sei quem falou que o amigo homem olha para a sua bunda quando você levanta. Ele pode olhar e, ainda assim, ser seu amigo. Só porque olha não quer dizer que queira conjunção carnal com você.


Sobre amigas mulheres - mulher fala mal de mulher, é fato, vamos ser sinceras. A gente fala do cabelo, da plástica no nariz, do pneu pulando da barriga da amiga. Lógico que não pra ela, para as outras. Coloca duas mulheres sentadas e pode apostar que elas falam de um desses três assuntos: dietas, homens e amigas (entram nesta categoria as conhecidas, inimigas e rivais). Não necessariamente nesta ordem.


Sobre as outras - as mulheres têm um imã que puxa para o passado. A gente tem que saber o nome, sobrenome, apelido, codinome, quase-nome, endereço, cor do cabelo, profissão, idade, número da calça, cor do esmalte da unha, tamanho do sutiã, mapa da celulite, nome da melhor amiga e o número do CPF da ex. E a ex pode nem ter sido namorada, tá valendo ex-ficante, ex-affair, ex-casinho, ex-rolo, ex-qualquer-uma-que-cruzou-o-caminho-dele.


Sobre a bebedeira - pra curar o trago não tem nada melhor do que duas Neosaldinas e um Gatorade (eles não estão me pagando pela propaganda). Tudo no guti-guti. Nunca discuta após a ingestão de qualquer tipo de birita, nunca. Deixe para conversar no day after, é mais seguro. Nunca use a bebida como arma-justificativa-desculpa, tipo "fiz porque bebi". Apesar do trago vestir fantasias, quem tira a roupa é você.


Sobre o chute na bunda - até a mulher mais bonita do planeta já levou. Pé na bunda não tem pré-requisito, não preenche ficha nem formulário, tampouco é sorteio. Você pode ser rica, pobre, ter o cabelo bom ou ruim, ser uma víbora ou um doce, ser linda ou um jaburu. Todo mundo leva, um dia, um pé no traseiro. Do pé e da morte ninguém escapa.


Sobre a traição - já ouvi falar que chifre é que nem gol, "quem não faz, leva". É engraçadamente triste a frase. Sinceramente, acredito em fidelidade. Acredito e pratico. Pensei até em montar um Comitê Das Mulheres Que Ainda Acreditam. É que eu, ingenuamente ou não, vou sempre acreditar.


Sobre a tentação - o mundo tem não sei quantas espécies de criaturas. Algumas são belas, outras apenas exemplares da feiúra humana. Que seja. Um dia, cedo ou tarde, você vai topar com um bonitão, ele vai dar de cara com uma bonitona. Um rosto bonito, apenas. Ou somente um corpo bonito. Quando você está em uma relação que te completa, nem pára pra pensar em tentações e outras porcarias do gênero. Pessoas bonitas são apenas pessoas bonitas, não te despertam a tara violenta ou o tesão incontrolável. Mas se despertam, opa, problemas. Resolva-os. No analista, com o seu par, jogando tênis, tomando um banho gelado. Resolva-os de forma digna. Nunca, nunca mesmo, na cama com Madonna.


Sobre os livros - eles são a oitava maravilha do mundo. Fazem com que a gente viaje sem sair do lugar. Ou, ainda, que a gente leve dois ou três embaixo do braço, pra viajar. São uma boa companhia, comem de boca fechada e não roncam.


Sobre a morte - ela é assustadora. Tenho medo de morrer, na verdade. E sempre achei que ia morrer cedo, antes dos trinta anos. Se será assim, não sei. Se vai ser assim, só tenho dois anos pela frente. Se eu morresse hoje não ia ter deixado nada para trás. Dei todos os abraços que queria, todos os beijos que desejava, fiz os elogios que achei que precisava, falei todos os eu te amos que estavam na garganta, errei muito, acertei bastante. Pintei o cabelo de várias cores, briguei quando achei certo, fui irredutível quando achava que tinha razão, reconheci meus tropeços, pedi desculpas, perdoei. Plantei uma árvore, escrevi um livro e meio, ajudei cegos e velhinhos a atravessar a rua, não matei, não roubei, não fiz calúnia. Não fui santa, nem pura, nem nada. Fui eu, apenas. Tive uns comportamentos de doida varrida, gritei algumas muitas vezes, xinguei outras tantas, mas a tpm faz isso com a gente. Acontece nas melhores famílias. E se não era tpm usei ela como desculpa. Colou.


Sobre o medo - não tem remédio, é olhar pra frente, olho no olho, cara a cara e dizer "vai encarar?". De vez em quando ele se caga de medo e sai a passo, outras vezes ele te enfrenta, lança um olhar desafiador e quem se caga de medo é você. A solução? Apesar de cagada, continue a sorrir. Demonstre que está disposta a enfrentá-lo, quem sabe assim ele dá uma trégua. Medos sempre existirão. De escuro, de mudar, de fugir, de recomeçar, de ficar sozinha, de não conseguir, de fracassar. A gente muda e evolui, os medos também. Eles são a nossa companhia garantida. E, às vezes, são os responsáveis por nos livrar do marasmo que a vida fica - porque nada é sempre bacaninha.


Sobre a dor - cólica dói. Puxão de cabelo (dependendo de quem dá, de como dá e blá-blá-blá) dói. Unha encravada dói. Dor de cabeça também. Saudade dói, amor de vez em quando dói. Muita coisa dói. Dor física, emocional, dor. Se é física remédio passa. Se não passar existe aquele chazinho da vovó, tem também o floral, acupuntura e derivados. Tem também aquela dor que com remédio e reza forte não sai, a dor de amor, a dor de coração. Beba, chore, grite, dê soco na almofada, esgane os bichos de pelúcia. Durma. Organize o armário e as gavetas. Se ocupe. Malhe. Saia com os amigos. Saia com o travesseiro. Assista a todos os filmes do mundo. Chore com e sem eles. Mas coloque pra fora, não deixe a dor acumular, ela pode se transformar em algo pior. Cantarole músicas. Vá em um karaokê. Compre um vestido lindo. Mude o corte ou a cor do cabelo.


Sobre achar que não vai conseguir - a gente sempre tem um ou outro momento de insegurança. É aquele momentinho cretino no qual encontramos o nosso lado fracote. É exatamente neste momento que precisamos colocar toda a força no gogó e cantar bem alto "I'm every woman". Aqui vale se enganar. Você pode estar se sentindo um trapo, mas incorpore o James-Brown-I-feel-good-tã-nã-nã-nã-nã-nã-nã. Dizem que quem canta os seus males espanta. De vez em quando vale a pena acreditar, se a gente acredita em fluídos anti-frizz...cantar uma musiqueta pra espantar a uruca não vai fazer mal, né?


Sobre a amizade - algumas pessoas simplesmente vão desaparecer da sua vida, aceite o fato. Aquele que era muy amigo no ano passado hoje pode ser só um rosto em uma foto. Ainda acredito que amigos verdadeiros não se separam, por mais distantes que possam parecer. A distância é pura imagem, lembre que imagem não é nada. Nem todo mundo precisa saber os seus passos, por mais amigos que sejam. Muito da sua vida fica pra você, você e você mesmo. Isso basta. Quanto mais você amadurece mais percebe que pode transitar por diversos grupos de amigos, que só porque alguém não sabe tudo sobre você não quer dizer que não possa ser considerado seu amigo. Até as amizades têm limites. A própria vida faz com que cada um tenha o seu dia-a-dia, a sua rotina, a sua individualidade, os seus compromissos. Isso pode gerar um afastamento, mas a maior distância está na cabeça das pessoas. Na maioria das vezes são elas que colocam barreiras.


Sobre a vida - congela por dentro ou queima a língua. Vida morna é estranha, fica sem gosto. Se gelar muito a gente pula pra esquentar. Se queimar a língua a gente agüenta a sensação que dá. O importante é causar alguma sensação. Quem vive uma vida sem sentir o gelo ou o calor intenso pra mim não consegue viver por inteiro. Essa coisa de metade nunca foi comigo não. É melhor entrar chutando o balde e se preparar pra abraçar as conseqüências que o balde virado traz do que ficar olhando o balde ser enchido por terceiros até transbordar.

Sobre a paciência - quando a gente pensa que a perdeu de vista ela ressurge. Ainda bem.

Sobre o tempo - ele passa, querendo ou não. Mas é quando a gente mais quer que ele corra que ele empaca. E quando a gente menos quer lembrar que ele existe que nos falam dele. "O tempo vai te ajudar, o tempo tudo cura, tudo passa com o tempo". Dá vontade de mandar dar um sumiço no maldito (bendito?) tempo. Ou dar pra ele uma passagem só de ida pra Escócia. É engraçado, mas é só quando o tempo já passou que nos damos conta do quão importante ele foi, o tempo é fundamental. É ele que nos mostra as verdades e mentiras da vida. É ele que ajuda a cicatrizar certos cortes e arranhões. É ele que nos prova que nossas crenças são pra valer. Que o nosso amor é real.

Sobre as Havaianas - são mesmo as legítimas. Não soltam tiras. Nem dão chulé. São confortáveis e não machucam o meio dos dedinhos (como outros chinelos paraguaios).

Sobre a gentileza - por pior que seja o seu dia o motorista do táxi nada tem a ver com isso. Nem a atendente da loja. Nem o balconista do banco. Nem o cidadão que está atravessando a rua. Nem Deus, nem o diabo, muito menos o cachorro do vizinho. Por isso, não desconte as suas frustrações em quem nada tem a ver com a sua vida. Melhor dizendo: não desconte em quem, também, tem a ver com a sua vida. O mundo não é o culpado pelos seus problemas (apesar de, às vezes, parecer e merecer levar o peso da culpa).

Sobre o amor - ao longo da vida deparamos com muitas promessas de amor. Fechamos os olhos, abrimos, vezenquando até sentimos. Por um tempo curto. Com o passar dos dias descobrimos que o amor de verdade é raro. Muita gente nasce, cresce, se reproduz e morre sem ter encontrado o amor verdadeiro. Você pode ter alguns amores, amorzinhos, amorzões, mas o amor mesmo, aquele puro-puríssimo-purão, aquele lá é difícil. Sabe aquele papo de alma gêmea? Quem encontra a sua, encontra o mundo.

Sobre a convivência - por mais parecidas que sejam duas pessoas, acredite, elas são completamente diferentes. Vocês podem ter os mesmos gostos, as mesmas manias, os mesmos valores e, ainda assim, serem diferentes. Irmãos criados do mesmo modo e na mesma casa e pelos mesmos pais são diferentes em temperamento e personalidade, não é mesmo? Com uma diferença: irmãos têm que se aturar. Os outros, bem, os outros se aturam porque querem. Porque assim desejam. Ninguém tem um bom dia todos os dias e vice-versa. É preciso jogo de cintura, contar até um milhão, pensar antes de falar, segurar o impulso, sorrir delicadamente, xingar mentalmente, tudo pela boa convivência. Se você não sabe segurar a própria onda morre afogado e sozinho na praia. (E, de repente, comido por um jacaré e-nor-me!)

Sobre a conversa - gosto de observar os outros. Observo, com tristeza, que muitos casais quando estão em restaurantes, seja almoço ou jantar, comem calados, olhando para o nada, com pressa de que aquele ritual logo termine. Penso que um dia eles não foram assim. Em um passado não tão distante esses mesmos casais deviam sair e falar sem parar, trocar carinhos e olhares amorosos. E hoje ficam um ao lado do outro como se fossem dois estranhos. Dois tímidos estranhos. Isso me entristece. Com o passar do tempo as pessoas deveriam ficar mais próximas. Ou não? O tempo, na sua sutil crueldade, acaba por afastar ou por fazer um casal se perder de vista. É por isso que acredito que todo o relacionamento precisa ser cuidado, protegido, abraçado. Se jogar pro vento, pro universo, ele faz o que quer.

Sobre o silêncio - tão importante quanto o assunto é o silêncio. Um casal precisa sentar no colo do silêncio e ouvir o que ele diz. O silêncio tem muito a dizer, é preciso apenas ser um bom ouvinte, saber a hora de calar. Quem se sente bem no silêncio do outro sabe quem o outro é de verdade.

Sobre o erro - os erros têm uma importância fundamental na vida da gente. Através deles é que nos descobrimos, através de cada perda, de cada caminho errado é que voltamos, retornamos, fazemos o certo. Ou tentamos.

Sobre o acerto - eles muitas vezes não são comemorados da forma como deveriam. Acho que tudo é motivo pra comemoração. Inclusive o que não parece bom. Em cada coisa esquisita existe uma ponta de beleza, é só saber ver. Não adianta estar com os olhos abertos se a gente não aprender a enxergar.

Sobre o espelho - não adianta a imagem refletida ser bela e agradável se você se sente vazio por dentro. Da mesma forma que não adianta ser cheio por dentro e a imagem que o espelho mostra ser totalmente desagradável aos olhos. Acho a beleza importante sim. Muito, demais. Mas acho que existem muitas formas de beleza. Descubra a sua.

Sobre o casamento - uma vez eu queria muito casar, que nem todo mundo casa. Não porque todo mundo casa um dia (ou não), mas porque eu queria, acho bonito toda aquela papagaiada de vestido-de-noiva-buquê-chuva-de-arroz-dama-de-honra-padrinhos-no-altar-tia-velha-com-laquê-segurando-o-coque-e-lua-de-mel-em-Paris. Mas, como eu já disse em outro texto, a gente cresce e os sonhos vão trocando de roupa. É interessante que tudo isso eu queria sem ter encontrado o amor da minha vida. Eu imaginava aquelas festonas pra 500 convidados, show do Ben Harper, tipo-um-mega-evento. Hoje, com o amor da vida no coração e na vida mesmo, penso diferente. Lógico que eu quero casar, mas sem festa, sem agito, sem padrinhos, sem chuvas de arroz e lembrancinha de casamento. Sem bolo de 3 andares com os noivinhos em cima. Hoje eu quero casar em um lugar bonito, romântico, num fim de tarde, eu e ele, as testemunhas e acabou (no caso, começou). A gente pode jogar arroz um no outro, sentar no chão, ver o pôr-do-sol e tomar uma champanhota. E pronto. Só não abro mão do vestido, acho bonito. O resto é o resto, porque quando a gente tem o amor mesmo, a gente tem tudo.

Sobre tudo - ninguém disse que é fácil. Alguns dias são complicados, outros são bem bons e assim a gente vai vivendo. Só não me conformo com quem se contenta com a vida que leva, isso é desesperador. É preciso sempre querer algo, querer mais, querer ser melhor. Quanto aos dias ruins, tenho a teoria dos cinco minutos: o máximo que eu me permito ficar triste são cinco minutos. Depois toca uma sirene na minha cabeça que grita chega-acabou-sacode-o-corpo-e-canta-I-Will-Survive-com-os-braços-pra-cima. É tiro e queda!










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