Ai, ai. Ando por aí me distraindo com observações. Quer coisa melhor do que prestar atenção no ser humano - ou não? Queria ser bicho, algo tipo uma borboleta. Sempre gostei delas, tanto que carrego uma na nuca, estilizada, feita por mim. Um troféu estampado numa nuca desbotadamente branca e pura. Pura, eu disse. Mas nucas não são intocadas, elas são bem saidinhas. O bom é que a gente só dá abertura pra quem quer. E por falar em querer, quero dizer que definitivamente não gosto de gente descolada.
Essa moda descolada é um terror. Dia desses li um texto de uma mulher que disse mais ou menos assim: eu sou mulher de verdade, detesto sonhos de mulherzinha, odeio quem faz fiasco, quem acredita em alma gêmea, quem espera o príncipe encantado, quem fecha as pernas na hora do sexo, quem cala o gemido, quem isso e quem aquilo. Palmas pra você, mulé-macho-sim-senhor. Ai, que coisa bem detestável! Odeio mulher assim, com um quê feminista no olhar, do tipo não-preciso-de-homem-eu-me-basto. Vou te contar um segredo: eu preciso de homem. Preciso da mão, do toque, do cheiro do cabelo, do cheiro do corpo, do peito cabeludo, da barba roçando na minha nuca desbotada. Preciso de homem pra me abraçar inteira, me morder inteira, me lamber inteira, me guardar inteira. Preciso de homem pra cortar frango pra mim, detesto pegar em carne, seja ela vermelha, branca ou cor de burro quando foge. Preciso de homem pra juntar o cadáver da barata, pois eu mato e tenho nojinho de juntar. Preciso de homem pra falar no meu ouvido, pra dividir a incomodação da tarde, pra ouvir minhas bobagens românticas ao telefone, pra ler meus bilhetinhos colocados embaixo da porta do banheiro. Preciso de homem pra entender que existem diferenças básicas entre homens e mulheres e isso, meu bem, é uma coisa inevitável. Muito mais do que precisar de homem, preciso do meu, afinal, este é o que escolhi pra mim.
Lamento dizer, mas tenho meu lado mulherzinha. Fico triste quando quebro uma unha, não consigo ficar com uma menor do que as outras, então corto todas, todinhas ficam curtas e isso me entristece. De vez em quando eu surto e acho que o meu guarda-roupa tem que ser jogado no lixo. De vez em quando eu fico rebelde porque o meu cabelo fica rebelde. Lamento, toda a mulher, por mais sargentona que seja, tem o seu lado mulher, ainda que queira esconder. Até a mulher mais homenzinho, daquelas que quase coçam o saco imaginário e ajeitam as bolas imaginárias, se preocupam com o delineador que ficou torto. Ou então eu tô muito enganada. Eu tenho sonhos de mulherzinha sim, e admito com orgulho. Eu faço fiasco sim, eu faço cena, eu faço drama, eu faço fofoca, eu me sinto uma vaca de vez em quando, eu me sinto horrível em alguns dias, eu me sinto lindas na maior parte do tempo, eu tenho tpm, cólica, dor de cabeça, fome, sede, calor, frio, espinha, dor nas costas, eu tenho tudo. Essa coisa de príncipe encantado é engraçada. Quando você é menininha pensa que ele existe. Quando você vira mulher tem certeza que ele existe, e por isso insiste na procura. Quando você leva alguns empurrões e tapas na cara do amor, desiste. Quando você resolve fazer o que dá na telha sem se preocupar em achar um sujeito disposto a te levar pra dentro do mundo dele, você acha. Pimba!
Gente descolada gosta de tudo que é modinha. A moda agora é ser amigo da natureza, ser vegetariano, gostar de mato, daqueles cd's infelizes com barulho de água, vento e sei lá mais o quê. Sai de mim! Gosto da natureza, faço o possível pra gente se dar bem, nossa amizade funciona na base do respeito. Mas não me peça pra deixar de comer carne, não consigo. Não uso pele de animal porque acho desaforo, fico com pena dos bichinhos. Não gosto de mato, não gosto de mato e não gosto de mato! Mato tem mosquito, pernilongo, mosca, gafanhoto, centopéia, gambá, sapo, perereca, aranha, cobra, lagarto, eca, eca. Mato tem barulho de grilo. No mato você não tem conforto. Mato é ruim, não me convide pra ir pro mato. Sou mais chata do que você pensa: não gosto de praia. Adoro o mar e o barulho que as ondas fazem, o mar me traz uma paz sem tamanho. Mas aquela areia me incomoda demais. As pessoas que deixam casca de banana na beira da praia me deixam irritada. A areia que cola na sua perna depois que você sai do mar me deixa nervosa. O sol faz mal pra minha pele branquela. O sol faz mal para as minhas sardas, que são maior que a população da China. Por favor, não me dê nenhum cd com barulho de água, vento, bichinho. Tenho pavor disso, em mim causa o efeito inverso, ao invés de me acalmar aquilo me angustia.
Descolado adora dizer que transa com quem quer sem dar satisfação pra ninguém. Descolado ama falar que beija quem tá a fim. Não sou descolada, mesmo. Sexo é algo muito íntimo. Beijo na boca mais ainda. Tenho nojo de beijar qualquer boca. Deve ser por isso que fiz tudo depois que as minhas amigas. Beijei depois, fiquei depois, transei depois. E não me arrependo, a gente tem que seguir a nossa moda. Garanto que sempre tem um pra copiar. Quem mandou saber inventar?