Pedacinhos

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Eu não estava esperando nada, coisa rara em minha vida. Sempre sonhei demais, acordada ou não. Estabelecia metas, criava estratégias, divagava acerca das questões, me dava prazos, usava e abusava da imaginação. Com tudo isso expectativas cresciam em um ventre inexistente e ilusório. Na vida, se você analisar bem todos os ângulos, tudo é ilusão, exceto os fatos concretos. O emocional, o não-acontecido, não-vivido, são ilusões. Se elas se tornarão ou não verdade são outros quatrocentos, mas a regra é clara: enquanto não saiu do papel é só plano, ilusão, projeto, qualquer nome bonito e simples que você queira usar no momento do batismo.



Não esperando nada acabei conquistando tudo. E foi na segunda à noite, lembrando disso, que chorei. Há alguns anos ganhei o Certificado de Choronice, coisa bela de se ver. O Certificado é recebido por pessoas que muito choram, por motivos aparentes e/ou fantasmagóricos. Recebi o Certificado depois de muito chorar por ter ganho um elogio, ter escrito algo lindo e modesto, por ter lido algo lindo, por bater o dedinho do pé no armário do banheiro, por ter brigado com quem eu gostava, por ter falado o que não devia, por dor de garganta. As razões são diversas, o desfecho é só um: lágrimas. Conheço as benditas há muito, muito tempo, somos amigas íntimas. Sei os humores, preferências, pesos, alturas, todas as medidas das queridas. Li em algum lugar que dar uma choradinha básica, aquela chorada-test-drive-de-rímel-à-prova-d'água é bem saudável. Pode ser uma choradinha-express, choradinha-fast-food, choradinha-pague-um-leve-dois, choradinha-the-flash, choradinha-me-espera-que-tô-chegando, choradinha de três minutinhos. Chorou, tá nova.



Durante alguns incansáveis anos eu esperei. Queria endireitar o meu dedo, pois sempre tive dedo podre para escolher, como diz a vovó, pretendentes. Os moços de boa índole se enquadravam na categoria Complicados, Sem Noção, Drogados, Prostituídos, Bêbados, Espancadores e Outros. É claro, claro que estou exagerando. Eles não eram ruins, apenas não eram bons para mim. E quando eram, acredite, eu não era boa para eles, pois para uma pessoa ser boa para outra ambas têm que sentir. Sentir algo, qualquer coisa, uma ponta de sentimento que dispare, persiga, repare. Quando não há sentimento, não há nada. E nada fica no lugar que deveria. Depois de tudo virar nada e nada ir adiante, parei de procurar. O quem-procura-acha nunca se deu bem comigo, sou do contra. E a partir daí, sem fazer a menor força, passei a esperar absolutamente nada. Meu foco era outro, eu estava voltada para o meu interior, eu, a melhor amiga de mim mesma, preocupada com questões filosóficas-humanas-metafísicas. Despreocupada com o coração. Foi aí que o atraso (o acaso?) me pegou, sei lá se era essa coisa do destino, sei que acabou acontecendo.

E aconteceu. Reli uns trechos, textos, coisas assim. Lembrei que eu não estava esperando, mas que talvez eu estivesse te procurando há muito tempo, em sonhos. A nossa história é tão bonita, tão bonita que dá vontade de chorar, não lágrimas que doem, mas aquelas que escorrem pelo rosto como se fosse um cafuné. Lágrimas de alegria, uma alegria única, a alegria que só aparece quando a gente encontra o amor da vida da gente. O nosso amor é tão bonito, o teu amor é tão bonito. E chorei bastante, demais. Pelo nosso amor bonito, pelo começo da história, pelo meio, por agora, pelo que vai vir. E por todas as pessoas que, sorte a delas, conseguiram um dia se sentir assim como eu me sinto agora.

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