Operações matemáticas

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Eu sei que alguns dias são especialmente confusos. Por mais que alguém fale olha-é-assim a gente simplesmente não entende. Ainda mais uma criatura questionadora como eu. Por quê? Não me conformo com um é-assim-e-deu. Deve ser por isso que eu nunca engolia quando me diziam, no auge dos meus quatro anos, o famoso porque não. Posso brincar na rua, mãe? Não. Por quê? Porque não. Porque-não-não-é-resposta, ora. Nunca foi e não é justamente hoje que vai ser.



Ainda bem que algumas coisas salvam a gente. Sabe, sempre tem algo que salva a gente. E se não tiver, invente. A minha regra é clara: volta e meia preciso fugir do mundo real, não por maluquice ou coisa parecida, é por pura sobrevivência. Tem gente que faz tipo, eu invento coisas para poder rir de mim. Pode soar um tanto esquisito, mas em situações de perigo, tente. E depois me diga se deu algum resultado.





Talvez eu queira demais. Não só de mim, entende? Dos outros também. Espero que descubram, por trás dos meus disfarces, toda a coisa. Porque as nossas angústias usam máscaras. E eu tenho uma mania de ser valente, dá até medo. O mundo entra na mochila e ela fica mais pesada que rocha. Aí brinco de tartaruga e quero levar tudo dentro. Nem eu me seguro, ora. Não sei porque insisto. Às vezes não dá, tenho que aceitar isso. Não é vergonhoso, nem fraco, é que não dá. Porque não. Mas, você sabe, não aceito essas respostas.



De repente tenho que passar pelo Processo De Engolimento De Aceitações. Dizem que acontece nas melhores famílias. Eu tô pagando pra ver. É que dá um misto de tristeza com outro sentimento parecido, acho que nem você vai saber direito. Espero que entendam o real motivo dos meus silêncios, que decifrem aquele riso meio forçado, que compreendam o que quer dizer a Desviada Brusca De Olhar (se eu desvio o olhar em seguida, aí tem, vai por mim!) ou a vontade de sair correndo. Acho que ele tinha razão. Aquele tom de voz cheio de vida avisou que alguma coisa sempre vai me faltar, por mais que eu vença e ganhe troféus. Sou uma mulher cheia de faltas, com a alma criança (disseram que tenho olhos infantis para ver o mundo, uma alma nova, pois parece que sempre vejo tudo pela primeira vez, com aquele ar de conhecimento). Melancolicamente bonito isso. Talvez a minha vida seja para ser cheia de reticências. Ainda bem, assim ela pode ser completada do jeito que eu bem entender.




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