Identidade

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Fiquei pensando na função do apelido. Quem se chama Josecleriana pode optar por Josi. O Valdimistom pode ser o Valdi. Ou o Som. Alô, alô, som, som. Mas não entendo quem tem um apelido maior que o nome. Meu pai, por exemplo, é Paulo. Minha mãe chama ele de Paulinho. Muito maior e mais trabalhoso. Quem tem dois nomes normalmente é chamado por um só. Meu namorado, por exemplo, é Francisco Ricardo. Preciso dizer que chamam ele de Chico? Menos eu, claro. Chamo de outras coisas que são nossas e Francisco. É um nome bonito, não tem porque encurtar com um Chico. Um Chico resolve tudo e fica muito comum. Gosto de ser diferente. Quando chamo ele de Francisco na frente dos torcedores que levantam a bandeira do Chico, morro de rir. Acham graça e me lançam olhares do tipo é-totalmente-fora-da-cara-essa-guria.

Tem o meu nome - que é lindo. Quando eu era pequena não ia muito com a cara do meu nome. Especialmente porque na aula tinham duas Clarissas. Eu era a Corrêa. Ou "aquela loirinha", "a sardenta". Eu odiava tudo aquilo. Só que a gente cresce. Comecei a gostar do meu nome e das minhas sardas, disse que gosto de ser diferente. Marianas, Julianas e Danielas, me desculpem, mas todo mundo conhece pelo menos um exemplar de vocês. Clarissa é diferente. Não são tantas assim. Clarissa, repita, soa bonito. É, hoje eu adoro o meu nome.

Estranho. Desde criança, não pergunte quem inventou essa moda, me chamam de Ciça. Ciça, assim. Clarissa, Ciça. Se fosse seguir a norma do portuga seria Cissa. Meu pai, ele de novo, escreve Cissa. O único. Ciça surgiu e tomou conta. Na família todos me chamam assim. Os amigos mais chegados também. Os amigos nem tão chegados, idem. Uma época o Clarissa só era usado em caso de intervenções brigacionais. Se a minha mãe estava brava, dê-lhe Clarissa em mim. Meu avô nem de Clarissa me chama, é Sara. Não posso contar o motivo, mas que é Sara, é. A Wania, que me viu nascer e é minha segunda mãe, me chama de Cicinha. Minha tia Lisete, quando sou boazinha, também. Algumas pessoas pensavam que meu nome era Cecília, tudo culpa do Ciça. 

Um dia conheci o Francisco. Ele nunca me chamou de Ciça, não consegue. Eu nunca chamei ele de Iao, apelido que tem na família. E eu comecei a me desacostumar com o Ciça, mesmo porque algumas pessoas do meu círculo de relações não me chamam assim. A Renata, por exemplo, me chama de Kemor. E assim vai. Os novos amigos me chamam de Clari, Clá, Ci. Fica difícil. Acho que estou atravessando uma crise de identidade.

No trabalho me chamam de Clarissa. Assim, sério. E também me chamam de Clarice. Claire. E Clá. Uma mistureba de tudo. Eu podia andar com uma plaquinha, daquelas que os tiozinhos que vão esperar o povo no aeroporto usam (nem quero comentar de aeroporto, avião, Air France), com o meu apelido. Mas ainda não pensei no Apelido Universal. Preciso concentrar tudo em uma coisa só, estou enloquecendo. Gritam na rua qualquer coisa e já acho que é para mim. Esses dias gritaram Wanderléia e eu olhei. Muitos nomes, apelidos, codinomes. Não consigo. E olha que ontem fui ao correio enviar uns contos para um concurso. Usei pseudônimo, era exigência. Pirei de vez, até eu estou me confundindo. Daqui a pouco já não sei mais como assinar o cheque. 



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