Sabedoria de bruxo

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Refleti sobre o que não entra no seu lugar. Pobre e desavergonhadamente, agora, hoje, neste minuto, sem deixar passar outros momentos. Muito é perdido quando deixamos passar. Aquilo não volta, a voz interna me diz. Fala agora, algo me sopra no ouvido. Estou desaprendendo a falar. Prefiro me expressar de outras formas. O teclado, melhor amigo. O bloquinho, meu companheiro de águas, sucos, cafés e biritas.


Acredito em astrologia, sinais, mantras e força do pensamento. Pode ser pra justificar erros ou dar uma mão para os desejos. Não entendo bem isso tudo, mas a gente tem que se colar em alguma resposta - ou suposta, pois as respostas são mascaradas. Duvido do horóscopo, vezenquando apelo pra algum orixá, deus hindu, gnomo ou luz do sol. Acredito quando é preciso, desacredito quando se faz necessário. A vida é assim, a gente olha pra onde quer. Meu plexo solar é aberto, um bruxo me disse uma vez. Ele capta tudo, recebe energias alheias. O bruxo famoso, um argentino que fuma charutos elegantes, me falou em espanhol coisas bonitas. Disse que eu era uma pessoa com uma missão bem definida. Vim para esclarecer, clarear. Interessante, Clarissa clareia. Logo eu, que me sinto tão penumbrada às vezes. A vida é assim, a vida é assim. Luzes acendem e apagam, pra não ficar no escuro basta ter sempre uma lanterna mental (a minha funciona, se você quiser eu empresto). O bruxo me ensinou a proteger o plexo solar, ele tem que ser constantemente fortalecido e tratado, pois como sou cheia de energia ele pula e oscila feito Pogobol com vida própria.


Não sei ao certo a razão pela qual o bruxo chegou de mansinho na minha memória. Seu Bruxo, hoje pensei em tudo aquilo. Plexo solar, infância, adolescência, energias, letras. Você pode não acreditar, juro que o bruxo falou que eu tinha que escrever. Eu tinha que. Sabe tudo ele. Fui lá há muitos anos, uma amiga me indicou, eu estava naquela época do quem-sou-eu, meio no tempo-da-perdição, então fui. Lembro de cada palavra e do jeito que ele respirava. E, lembro bem, ele me mandou ter cuidado. "Você não está preparada para o Mundo". Não sei se o Mundo que ele se referiu era Maiúsculo Assim. Mas agora eu percebo. Era Maiúsculo.


Eu sei que seria charmosamente ingênuo se eu dissesse que não sei quem sou ou o que quero pra minha vida. Durante algum tempo eu acreditei em coisas erradas. Pra ser única a gente não precisa ser diferente. No fundo, sou igual a todo mundo. Tenho um caminhão cegonha de incertezas, estranhezas, sujeiras. Mas eu acredito naquele Mundo Maiúsculo. Me preocupo com os recheios.


Recheios não entram no lugar, você já deve ter percebido. Quando a gente morde um sonho o doce de leite escapa. Quando a gente corta um bolo, o recheio de chocolate escorre para o meio do prato. Pessoas não são um cupcake bonitinho, ajeitadinho, bem feitinho. Elas são o recheio. Pessoas são o que sobra da mordida. O que fica, se esparrama, derrete, cai na calça e no chão. O mais gostoso é se sujar, pena que tem gente que não percebe isso. Eu me lambuzo. E passo a língua no dedo e no canto da boca. É que a gente tem que aproveitar tudo, até o fim.
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