Ins-pirações

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Senti o pescoço tenso. Depois, um plec. Plec. Pleeec. Estranhei, minhas tensões sempre foram silenciosas. Deve ser a idade, pensei. Com o tempo, a gente fica barulhenta. Ronca, o joelho faz barulho, tudo começa a enguiçar. Minha memória já não é mais tão boa. Esqueço de dar recados, o dia do médico, de colocar o lixo pra fora, de tomar a pílula. Só não esqueço da dor nas costas.

Senti a vida correndo. Ontem era janeiro e nos próximos dias os vizinhos já colocarão luzinhas de Natal nas sacadas. Presépios serão montados, árvores vão ser decoradas. O Papai Noel querido, barbudo e gorducho estará sentado na cadeira do shopping, tirando fotos e dando pirulitos para as crianças. No supermercado, a correria pelo melhor peru, chester e tender. Promoções, propagandas natalinas, filas e mais filas. Muita gente irá pro Uruguai em busca de vinho e champanhe mais em conta, já que o imposto aqui é um desaforo sem fim. Para o novo ano, roupa branca, sete ondas, pedidos de paz, amor, dinheiro e sucesso. Colheradas de lentilha, goles de espumante e oferendas para Iemanjá. A calcinha deve ser nova e cada cor tem um significado. Use amarela ou dourada, se quiser atrair dinheiro no próximo ano. Branca e prata, paz. Vermelha, paixão. Quem está vivendo um grande amor deve usar rosa. E pra quem precisa de mais esperança, uma calcinha azul veste bem na virada do ano.

Senti que tudo muda rápido. Até ontem eu era uma adolescente que batia a porta do quarto quando era contrariada. Pedia pro meu pai me deixar duas quadras antes do local da festa, pois achava coisa de nerd chegar com o pai. Dizia o que dava na telha, sem ponderar e pesar o poder das palavras. Me apaixonava perdidamente todos os dias – por meninos diferentes. Achava que seria uma grande psicóloga. Passava muita base pra parecer mais velha. Andava de salto alto todo o santo dia, sem me importar se apertava o último dedinho, se era desconfortável, fazia bolha ou dava calo.

Senti que me importo muito com coisas sem a menor importância. Por que tanto stress? Por que pensar tanto? Por que lembrar sempre? Por que não fazer força pra esquecer? Em 2010, vou fazer questão de ter uma espécie de Alzheimer do bem, esquecimento proposital amarrado com camisa de força. Meu lema vai ser esse: relaxa, respira fundo e inspira. Inspirando tudo acontece.

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