A aprendiz

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Me senti no programa do Roberto Justus: você está demitida. Eu e mais tanta gente, que nem dá para contar nos dedos. A agência em que eu trabalhava perdeu uma conta importante, por isso as diversas demissões. No meio disso tudo, fica um vazio. Não é só a minha cadeira que vai ficar esperando por quem não vem, é muito mais do que isso. E hoje eu entendi. Você já foi demitido? Primeiro, vem o susto, o baque. Depois, os porquês. Por que eu? Por que aconteceu? A seguir, a pergunta clássica: e agora?!?


Passado o choque, os abraços. É interessante como a gente cria vínculos afetivos. Conheci muita gente boa, alguns viraram amigos, aquele tipo de gente que você quer carregar dentro das caixas de papelão, junto com tudo o que ficava nas gavetas. Eu gostava muito daquele lugar, para entrar lá fiz uma pequena revolução na minha vida. Já tinha o meu diploma querido, mas entrei na faculdade de novo por causa da vaga. Tive um chefe que, sei que sim, era o melhor do mundo. Paciente, querido, educado, gente boa. O tipo de gente que você sabe que tem um bom coração e é do bem só de olhar. Tive, também, o prazer de conviver com um Diretor de Criação que é o cara que eu quero ser quando crescer. Inteligente, espirituoso, honesto, do caralho. Tive o prazer de trabalhar com uma equipe unida na alegria e na tristeza, na saúde e na doença: Alessandra, Camila, Diego, Letícia, Aninha, Marcelo, Jorge, Camis, Hermano, Rafa, Fê, Gustavo, Jack, Adriano, Juliano, Renatinha, Rex, Zé. Tive o prazer de ter uma "pauteira" e amiga gente boa até não poder mais: Tais. Tive o prazer de conviver com gente amável e que desde o início cuidava de mim: Verônica querida. Tive o prazer de aprender que atendimento e criação podem ser amigos, sim: né, Bárbara?


Foi um dia tenso, nervoso, com direito a lágrima, dúvida e seus eteceteras. Aquele dia em que você precisa de conforto, só para tentar enganar o vazio. Só para despistar aquela solidão triste que bate quando as coisas dão errado - ou te pegam de surpresa. Um dia que já tinha começado apertado dentro da calça: às vezes a vida aperta tanto que a gente mal pode respirar, mas é preciso olhar pra frente e agir. Um dia que já tinha amanhecido pensativo, analisando o que fazer dali para a frente. Um dia em que você quer um colo, mais nada. Porque de vez em quando tudo que a gente precisa é isso, se cercar de carinho e nada mais. Sem palavras, só presença física.


Nem sempre as pessoas estão na mesma sintonia que a gente, e isso é natural. Tão natural quanto clarear e escurecer o dia. Às vezes, um está cansado e o outro agitado. Em outras, um está feliz e o outro triste. Só penso assim: é sempre bom se colocar no lugar de. Não peço que ninguém divida a infelicidade comigo nem que fique choramingando tentando repartir algum desgosto. Não é preciso repartir a tristeza, só tentar amenizá-la. Dar um calmante, uma dose de alguma coisa e ponto. Em momentos difíceis, é necessário entender o nervosismo, relevar o que é dito e compreender que a pessoa está diante de um desmoronamento.


Hoje eu fiquei duplamente triste. Por ter saído de um lugar que eu gostava, por não trabalhar mais com uma conta que eu me sentia amiga. E por não ter sido entendida. Mas não tem problema: hoje eu enfio a minha mágoa numa sacola branca e vermelha e amanhã eu levanto a cabeça para a vida. Ela continua bonita apesar de, eu sei.
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