Décadence avec Élégance

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“Usar um brilhante grande no dedo significa apenas que você tem muito dinheiro - não diz nada em relação à elegancia.”


(Christian Dior, no livro O Pequeno Dicionário da Moda)



Me chama de ranzinza. Diz que sou impaciente. Me atira na cara que sofro de mau humor crônico. Depois, me joga na parede e me chama de lagartixa. Ou de jacaré. Ou de qualquer coisa com rabo - porque eu tenho e é grande. Desculpe, mas não suporto pessoas que dão risada alta, são amigas de todo mundo e ficam se espalhafatando por aí.

Sabe aquela gente que ri demais, dá tapinha nas costas demais, fala demais, se mete demais? Apesar de gostar do muito e ser fã do exagero, espera um pouco, peraí, tenha dó, vai com calma. Se eu não te conheço, não venha mostrando toda a dentadura para o meu lado, não encoste no meu braço para falar, não pergunte sobre a minha intimidade. O que é meu, eu guardo. O que eu quero, mostro. Com a experiência de vida pesando nas costas, a gente aprende (um pouquinho) em quem deve ou não confiar, com quem pode ou não contar.

Nunca gostei de quem fala muito alto, faz esparro, grita, dá gargalhadas fenomenais de tudo e acaba se tornando o centro das atenções por berrar para o mundo uma felicidade inexistente. Para mim, tenho isso bem claro, gente assim não é feliz. Sinceramente, não. E não tente me convencer, tampouco diga que sou azeda. O mundo não é uma risada sem fim, duvido de humores assim. E, principalmente, acho que tem lugar para tudo.

Uma coisa é você estar em casa assistindo qualquer programa engraçado e morrer de rir. No cinema, ver uma cena hilária e dar uma gaitada - em coro - de mil e noventa decibéis. Mas em consultório de ginecologista, no ambiente de trabalho, na fila do banco, na mesa do restaurante, por favor, mantenha a classe e a compostura. Não gosto de quem não sabe se portar. Existem lugares e lugares. Se você quer gritar no boteco, grite. Se quer dançar no meio da rua, dance. Mas entenda que num escritório fechado é bom lembrar que existem outras pessoas. E elas não são obrigadas a ouvir a sua conversa no telefone, seus gritos histéricos, suas risadas mal educadas, seus batuques na mesa, sua reclamação pelo dia infernal. Fique com seus problemas longe da vida de quem nada tem a ver com isso.

"Quando você ficar triste que seja por um dia e não o ano inteiro
E que você descubra que rir é bom, mas que rir de tudo é desespero..."
(Amor pra recomeçar, Frejat)


Muitos adolescentes, pelo fogo e falta de noção, ficam se agarrando em parques e lanchonetes. Lugar de nheco-nheco é em casa, sem ninguém vendo, a intimidade não tem que ser exposta. Vejo que muita gente perdoa os velhinhos que se atravessam na fila da padaria sem pedir licença porque são velhinhos. Peraí, a educação não pode envelhecer nem ficar com falta de memória. As coisas não podem ser desculpadas em função de idade ou classe social. Educação e classe independem do sexo e a quantidade (ou falta) de grana no banco. Sabe aquela criancinha que fica correndo no restaurante e dando nos nervos de quem está calmamente comendo? Para mim, e isso é sério, não tem desculpa. Culpados? Pai e mãe. Sei que a língua é o chicote do cu, mas meus filhos não serão assim. Não mesmo, pois vejo muitos pais que levam livrinho, canetinha e boneco para qualquer lugar. Criança precisa de entretenimento, senão enche o saco. Mas não acho que tudo deve ser desculpado. Os idosos podem passar na frente, as gestantes também. Mas que não usem as rugas e a cria na pança para fazer o que bem entendem. Isso acho sem vergonhice. E detesto gente ordinária.

Alguns confundem autenticidade com falta de educação. Risos demais, abraços, confidências, tudo sem a menor intimidade. Não gosto. Não tenho mais saco nem tempo para social-grátis. Não tenho a menor paciência para fingimentos. Não consigo, me consome, me sinto presa. Bom mesmo é sorrir com vontade, ficar de cara fechada com vontade, fazer tudo com vontade. Porque sem vontade já basta a quantidade de obrigações diárias que a gente tem.
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