Clarice

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O nome dela é parecido com o meu. Tem gente que liga lá em casa alô-quem-tá-falando-é-a-Clarissa-oi-Clarice-não-é-Clarice-é-Clarissa. Oi-como-é-o-teu-nome-é-Clarissa-muito-prazer-Clarice. Ei, é Clarissa. Mas, quando leio trechos como esse, me sinto meio Clarice também.



“Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade.

Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. [...] Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou madura bastante ainda. Ou nunca serei.”

(Clarice Lispector)
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