Ontem assisti um filme incrível, que me fez pensar sobre as nossas escolhas e as voltas que o mundo dá. Muitas vezes a gente acaba se traindo, se enrolando nas próprias pernas. Isso acontece por mil motivos, entre eles: insegurança, medo, insensatez, vergonha, carência, desassossego.
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Incansáveis, queremos verdades. Insaciáveis, queremos sempre mais. Impulsivos, queremos tudo na hora. Afinal, o que acontece conosco? O que queremos no fundo? Amor? Dinheiro? Poder? Sexo? Beleza? Juventude? Acredito que todo mundo só queira ser visto. Isso mesmo, você quer alguém que te veja e diga sim para todos os seus nãos. Porque a gente se nega, se desespera, se incomoda, se corrói e se aperta de vez em quando. A gente quer alguém que aceite isso, abrace nossas incertezas, conforte nossas inseguranças e nos dê aquele empurrãozinho camarada para que possamos seguir em frente, livre de máscaras e com alguma vergonha na cara. Porque é preciso ter muita vergonha na cara e discernimento para saber diferenciar o que é errado e o que é certo.
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O preço da traição, filme que assisti ontem, conta a história de um casal (ele é professor e ela pediatra) que tem um filho adolescente. Moram em uma casa linda, toda envidraçada e são vistos por muitos como uma família feliz. Todavia, mal se beijam, mal se encostam, mal se percebem, mal dão importância um ao outro. Cada um vive em seu mundinho e esses dois mundinhos em momento algum se cruzam. Falta paixão, atenção, carinho, falta beijo, falta abraço, falta cheiro, falta gosto, falta tudo. O filme é com a Julianne Moore (além de linda e sardenta, é excelente atriz) e com o Liam Neeson (que interpreta um professor charmosão). Tudo começa quando ela resolve fazer uma festa de aniversário para ele: se programa durante meses, convida os amigos, garçons, faz uma festança. Então, quando a festa já está rolando, liga para ele. O professor, por sua vez, chegaria de viagem naquela noite. Porém, quando ela liga ele diz que perdeu o voo e irá chegar mais tarde (é horrível quando a gente programa uma surpresa e rola esse tipo de frustração). Ela se sente chateada, mas a festa continua. Ele chega tarde e no outro dia, não sei por qual motivo, ela dá uma olhadinha no celular dele e vê uma mensagem que dizia adorei-a-noite-ontem, seguida de uma foto dele com uma aluna. Baseada em fatos que ela acha que existiram, ao invés de conversar com ele sobre o que viu e ficou pensando, contrata uma prostituta para dar umas investidas em cima do marido. Fim, mais eu não conto, pois contar filme é coisa de chato. Agora eu pergunto: quanto custa uma verdade?
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Quando a gente casa pensa que é pra sempre. Jura que não vai trair. Promete que não vai flertar. Afirma que nem olha para o lado. Mas o tempo passa, as rugas surgem, a bunda cai, os pés de galinha são presença vipérrima no rosto que antes era lisinho e cheio de vida e a gente começa a ficar insegura. E eu questiono: por que as pessoas têm tanto medo de envelhecer? Quem disse que ficar velho é feio? Existem muitas cinquentonas que dão um banho nas vintoninhas. É ou não é? Mas a sociedade maluca acha homens com cabelo branco charmosos e mulheres com mais de quarenta passadas. Já escrevi sobre isso, acho absurdo. Homem com barriga é aceitável, mulher com barriga é desleixada. Ei, peraí, quem inventou que as mulheres precisam ser tão massacradas? Quem colocou na cabeça das mulheres que elas precisam se cuidar com raparigas de vinte e dois anos? Quem? Me conta que vou lá dar uma voadora bem no meio da cara.
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Envelhecer é bonito. Um casal que envelhece junto, então, mais bonito ainda. Acho lindo casais bem velhinho de mãos dadas. Acho romântico ver o jeito que eles se olham, como se conhecem, quantas marcas trazem no coração, no corpo, na vida. Acho mesmo, de verdade. Quem casa é porque acredita no amor, acredita na união, na ligação. E um casamento pode dar certo ou não. O que não me conformo é ver duas pessoas, que antes se amavam absurdamente, acabarem se tornando estranhas. Como pode um dia você amar e no outro olhar para o lado e não reconhecer mais quem está com você? Eu sei que isso acontece, mas acho que é pura falta de atenção. Todo mundo muda um pouco todo dia. A vida faz com que a gente mude, se modifique, evolua de algum modo. E se você não presta atenção em quem está ao seu lado não percebe isso, nem se percebe. Então, um belo dia, tudo mudou e só você não viu. Daí se pergunta: o que aconteceu? Olha, o que aconteceu é que você não enxergava, não via, não olhava. Tem gente que quando se dá conta disso senta e conversa. Tem outros que ignoram o fato e seguem em frente. Sou a favor da conversa, da aceitação, do entendimento. Ignorar não leva a nada. Seguir em frente sem juntar os pedaços do quebra-cabeças não leva a lugar nenhum. Ou leva. Porque a verdade custa caro. Nem todo mundo está preparado para ver.