Descobertas de uma noite qualquer

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(Em outras palavras: um dia você cai na real.)



Fiquei triste. Ai, desculpa, mas fiquei. O ser humano é cruel, às vezes tenho vergonha de ter nascido humana. Sempre disse que prefiro os bichos, você lembra? Prefiro bicho, que gosta ou não gosta, que lambe ou morde. Um bicho nunca vai dar sorrisinho falso, dar tapinha nas costas e falar mal de você na próxima esquina. Ah, me deixa, eu fiquei triste e me deixa, me deixa, me deixa com minha tristeza num cantinho qualquer do coração.

Todo mundo vai te decepcionar, sabia? Sua mãe, seu pai, seu marido, sua amiga, seu vizinho. Todo mundo um dia vai fazer uma merda federal e ferrar com tudo que você sonhou. A gente tem tantos sonhos, tantas verdades floridas e bonitas. Meu Deus, como eu queria uma vida cheia de cor. Meu Deus, como eu queria uma realidade mais doce. Mas não. A vida é meio amarga, azeda, meio de verdade. Isso assusta, assusta, mas a gente precisa ser forte.

Sabe de uma coisa? Não, você não sabe. Vou te contar. Eu ando tão sensível. Precisando assim de uma palavra suave, de um gesto inesperado - e belo. Você consegue me surpreender de um jeito bom? Diz que sim, preciso tanto de você. Que coisa louca essa: a gente precisa de alguém. Mas, sabe, a gente sempre precisa de alguma coisa que nos coloque no eixo. Ando meio fora dos trilhos, se é que você me entende. Andei pensando na vida - é, sei que isso dá calafrios. Mas percebi que não adianta protelar. Preciso agir, agir, agir, largar essa pureza tosca, maldita, essa pureza pura, bonita e seguir. Eu preciso, por favor, me dê tapas fortes na cara, eu preciso entender que existe uma parcela de gente que é filha da puta, que mente, que engana, que trapaceia.

Agora, em novembro, eu ia publicar mais um livro. Um livro infantil, tão bonito, entende? Um livro que escrevi com tanto amor. Tinha pedaços meus ali, nas páginas, escancarados. Então, me pergunto: quando um livro não tem partes de um escritor? Pois bem: encontrei um editor que me pareceu íntegro, gente boa, inteligente. Trocamos ideias, falamos do texto, ele deu sugestões, discutimos, debatemos, resolvemos. Ele disse que me mandaria o contrato, explicou diversas coisas, estávamos escolhendo um ilustrador. A editora ainda não tinha selo infantil. Foi assim: inicialmente, um livro dele inauguraria o selo infantil. Depois, ele se reuniu com o conselho editorial e acharam mais conveniente inaugurar o selo com o meu livro. Fiquei feliz, estávamos num estágio avançado, numa troca bacana, tudo correndo bem. Até que ele parou de responder meus e-mails. Mandei um, dois, três, quatro, cinco. Mandei um e-mail chutando o balde, perguntando qual era a dele. E nada. Desde o dia dois de setembro o maldito não dá as caras. E mais uma vez eu penso: bem feito, bem feito, quem manda acreditar nas pessoas?

Já falei tantas vezes: palavra é a coisa mais séria que existe na minha vida. Por favor, não me engane. Por favor, não me enrole. Por favor, não me minta. Quando eu confio, confio de corpo, alma, coração. Não faça com que eu perca essa pureza. Entende? Confiar é se entregar. Dar a palavra é assinar um contrato imaginário: minha alma não vai ferir a sua. Por favor, dê valor para as suas palavras. Por que as pessoas são assim? Por que elas traem nossa confiança? Fico triste, triste. Essa crueldade não é pra mim.
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