Amor que nunca tem fim

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Tem épocas que a vida nos maltrata um pouco. Sei que problemas todo mundo tem, mas às vezes as coisas vão de mal a pior. Você não é valorizado no trabalho, alguns sonhos não conseguem colocar o pé para fora da gaveta, a rotina massacra, as crises aparecem junto com os primeiros fios de cabelo branco. Pânico na área. Muitas vezes não suportamos nossa própria voz e o outro, antes aliado, se torna um inimigo pra lá de íntimo. Então, você coloca a chave na fechadura, abre a porta e uma coisinha peluda vem correndo na sua direção. Plim, tudo muda e a vida volta a ficar boa.


Um animal de estimação exerce poderes fantásticos sobre nós. É incrível. Não é feitiçaria, muito menos tecnologia: é amor. Herdei do meu pai o amor pelos cães. Minha primeira cachorra foi uma boxer tigrada, a Baloo. Eu tinha cinco anos e a Baloo ficou com a gente até eu fazer 15. Cachorra especial, amorosa, paciente. Eu e meu irmão fazíamos ela de cavalinho e a querida sempre calma e tranquila. Baloo teve 6 filhotinhos, um mais lindo que o outro, mas não ficamos com nenhum. Tempos depois, uma companheira de pátio: a Bubba, boxer baia.Um pouco menor que a Baloo, adorava saltitar. Esguia, era muito elegante. Um dia a Baloo morreu. Na verdade, foi sacrificada. Teve um tumor, dois tumores. Quando a gente viu que ela estava sofrendo demais, mandamos para o Céu dos Cachorros. Bubba ficou sozinha, um pouco triste. Compramos a Maggie, uma linda labrador amarela. Amorosa. Carinhosa. Sapeca. Tinha alguns ataques epiléticos. Morreu nova, no meio de um ataque, na minha frente. Foi sofrido, doloroso e traumático, nem gosto de lembrar. Bubba, que já tinha tido alguns tumores (boxers são campeões no quesito tumor), voltou de mais uma cirurgia naquele dia. E foi dar a última lambida na Maggie. Coisa de filme. Coisa de cachorro, eles sentem muito as coisas. Maggie se foi, Bubba ficou. Decidimos não ter mais cachorro. Até que compramos a Mel. Melissa Cerro da Lagoa, uma labrador preta, linda, gordinha e simpática. Bubba e ela se davam bem, brigavam de vez em quando, mas se davam bem. E um dia ela também começou a sofrer, por isso também foi para o Céu dos Cachorros. Mel ficou sozinha, teve depressão, sentia falta da amiguinha. E essa foi a minha vida com os cachorros.


Nunca fui muito de gato. Acho um bicho traiçoeiro. Admiro o movimento, a forma independente como eles vivem, o jeito que caminham, os olhos. Olho de gato é lindo, mas não é um bicho que teria. Nunca tive interesse. Uma vez, surgiu uma gatinha lá em casa. No começo pensei que fosse gatinho, era preta com patinhas brancas, dei o nome de Zulu (homenagem ao Paulo Zulu). Um dia descobri que era menina, passei a chamar de Zuleika. Zuleika aparecia miando na sacada. Dei leite e o cocô ficou mole. Comprei ração. Adorava brincar com ela, filhotinha, querida. Zuleika começou a crescer, um dia meu pai deu um susto nela de brincadeira, ela arranhou ele e foi embora.


Já tive um casal de periquitos. Fico com pena de bicho em gaiola. Eles fazem uma sujeira danada. Também tive uma tartaruga, a Catarina. Até hoje acho que matei a coitada. Tartarugas hibernam e esqueci disso. Achei que ela tinha morrido e não sei se morreu mesmo ou se estava hibernando. Catarina era querida, adorava sol. E já tive um peixinho. Viveu pouco. Mas nenhum desses bichos interagem de verdade. Cachorro é cachorro. Cachorro interage, te abraça, te lambe, te emociona.


Só tive cachorros grandes. Eles ficavam no pátio, eu morava na casa dos meus pais. Minha mãe sempre dizia "lugar de cachorro é na rua". Ela não gostava muito de cachorro dentro de casa, então eu não sabia direito como era essa experiência. É lógico que eu colocava a cachorrada comigo na sala quando ela não estava em casa. Mas nunca tive um cachorro o tempo inteirinho comigo. Até que saí de casa, tive minha própria casa. Então, eu e o Francisco um dia fomos em um canil só "pra ver" os filhotinhos. Fiquei na dúvida entre westie e york. Tinha medo de ter york, conheço vários chatos e histéricos. Westies são lindos, mas precisam de espaço. Além disso, Francisco é alérgico, tem rinite, pelo faz mal pra ele. Mas a gente só ia ver...


Pesquisei sobre as raças. Sei que muitos animais estão abandonados. Sei que eu podia ter pego um cachorro da rua. O problema é que a gente nunca sabe o tamanho que um bichinho de rua fica. E no meu caso eles não podiam ser grandes, pois moro em apartamento. E a gente queria filhote, pra cuidar desde o comecinho. Fomos lá no canil "só ver" os yorks. Nos apaixonamos por uma e compramos. Demos o nome de Juno, que tem um significado especial para a gente. Então, Francisco me olhou com lágrimas nos olhos e disse "agora a gente é uma família".


A pequena Juno chegou para nos trazer muito mais alegria. Com ela, ficamos mais unidos. Quando ela estava doente, ficamos preocupados juntos. Levamos ela até a veterinária. Ela foi castrada, cuidamos dela. Escolhemos roupinhas, bichinhos, brinquedos, cama. A gente se divide nos cuidados de limpeza, alimentação, atenção, disciplina. Ter cachorro é uma delícia. É claro que exige uma série de cuidados, mas a recompensa é gigantesca. A alegria é infinita. O retorno que eles nos dão é algo sem definição. Cachorro alegra a casa, alegra o dia, alegra a vida. É uma companhia incrível. Cachorro pequeno é como se fosse um bebê em casa. A Juno fica o tempo todo com a gente. Se vou tomar banho ela vai junto. Se vou fazer xixi ela fica sentadinha me esperando. É uma sombra. No final de semana, ela acorda e fica saracoteando pelo quarto até nos acordar. Ela adora estar pertinho, gosta de ficar colada com a gente. E isso nos aproxima mais. Faz com que a gente se ame mais. E a melhor parte do dia é quando nós três nos deitamos na cama e damos um super abraço triplo.
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