O lado sem graça do mundo

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Frequentemente, fecho os olhos e procuro algum lugar bonito para viajar. Nem sempre me orgulho de ser humana, nem sempre me orgulho do ser humano. Por isso, muitas vezes fujo para o meu mundinho paralelo, onde as velhinhas de 89 anos não apanham de duas debilóides, onde não cai avião, onde não tem terremoto, onde uma senhorinha de 85 anos não é amordaçada e vê seu papagaio de 38 anos morrer pisoteado, onde não vejo gente jogar lixo pela janela, onde crianças não falam palavrão, onde adolescentes não matam os pais, onde pais não estupram as filhas, onde não existe crack, onde os animais não são abandonados e espancados, onde não roubam carros, não assaltam bancos e residências, onde ninguém morre de câncer, onde tem rampa em todos os lugares para os deficientes físicos, onde político não é corrupto, onde ninguém é discriminado por ser negro ou gay, onde a gente pode acreditar na polícia, onde ninguém te mente, te engana e te fere.


Morro de vergonha das notícias que leio diariamente. As pessoas perderam o limite, a noção, o respeito, seus critérios e valores. Falam o que dá na telha, agem de acordo com suas vontades sujas. Eu quero? Então roubo. Eu quero? Então mato. Eu quero? Então vou ter a qualquer preço, custe o que custar. E assim vamos vivendo, afundando na lama da ganância, do poder, do dinheiro, da safadeza, da pilantragem. E assim vai morrendo gente na fila do SUS. E assim quem merece ter o seu remédio todo mês morre por falta de medicamento. E assim inocentes vão se perdendo. E assim traficantes vão construindo mansões. Até quando vamos ficar de braços cruzados vendo toda essa palhaçada?


Você, achando tudo muito divertido, votou no Tiririca. Você, de carona na onda do cool e legalzão, assiste o CQC e acha muito legal o "humorista" Rafinha Bastos dizer na Rolling Stone que "Toda mulher que eu vejo na rua reclamando que foi estuprada é feia pra caralho". É esse tipo de humorista que faz rir no Brasil. Você realmente acha graça disso? E ele continua "Homem que fez isso [estupro] não merece cadeia, merece um abraço". Não satisfeito, declara: "A minha comédia não é feita pra todo mundo, véio. E eu não quero que seja. Até agora eu cheguei assim. Eu não preciso popularizar a minha comédia". O querido não quer se popularizar, acha que tem um seleto público. Parece até a Vera Fischer, que declarou que não escreve para pobre. Ou a Lauryn Hill, que disse que não canta para brancos. Em que mundo essa gente vive?


Quer saber o que me espanta de verdade? É ver que um cara como o "humorista" Rafinha Bastos é indicado em pesquisas como a pessoa mais influente (?) do Twitter. Acho que ele não aprendeu na escola que brincadeira tem limite. Como eu sempre disse: quem impõe os limites somos nós. É a gente que decide até onde o outro pode ir, nós que estamos no controle. É por isso que toda segunda minha televisão não fica ligada na Bandeirantes.


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