Ninguém pode saber

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Cada um tem o seu vício. Uns preferem jogar, outros beber e fumar. O meu é escrever. Um dia disseram que eu escrevia bem e acabei acreditando. Outro dia disseram que se identificavam com tudo que eu escrevia: acreditei mais ainda. Por causa disso, em outubro o blog vai fazer 6 anos. Fico me perguntando: quantos blogs duram tudo isso? Mais: quantos blogs são realmente acessados diariamente por centenas de pessoas e conseguem se manter todos esses anos em pé?

Você sabe: tudo é moda. Quando a moda passa, quando você envelhece, quando fica demodê, tchau, tchau. Ninguém tem peninha, ninguém dá a mão, ninguém quer saber da sua cara - muito menos do seu trabalho, da sua carreira, da sua vida. Só tenho a agradecer. Acumulei leitores, aumentei o fluxo de gente que passa por aqui, se emociona, ri, chora, concorda, discorda, critica, elogia. Sou uma sortuda. Meu vício faz bem para os outros. Tem coisa melhor que um vício não destrutivo?

Muitos não sabem direcionar bem seus vícios. Acabam canalizando suas energias para lados não tão bons assim. O jogo, por exemplo. Homens e mulheres perdem rios de dinheiro junto com a dignidade e a confiança dos familiares. Mas quer saber uma verdade profunda? O pior jogo pra mim é o emocional. Nunca fui disso. Sabe aquela velha história se-faz-de-difícil-deixa-o-telefone-tocar-4-vezes-antes-de-atender-não-dá-no-primeiro-encontro? Nunca fiz. Sempre agi de acordo com ele: meu coração. Errado ou não, ele sempre me cutuca. E se revolta quando tento fugir dele.

Quando eu era adolescente e gostava de algum menino dizia na maior cara dura. Mandava um bilhete, algo assim. Sempre fui da Turma do Bilhete. Oi, acho que tô apaixonada. Oi, gosto de você. Tudo bem, não era assim, era bem mais elaborado, eu escrevia muito, desde pequena tenho esse dom (é dom?). Nem sempre ganhava um sim, mas eu tentava. Melhor um não que um se. Melhor um não que um talvez. Melhor um não que um peso na consciência. Eu falava, me sentia livre, corajosa, pelada. Sempre fui de tirar a roupa para os sentimentos. É claro que por isso já me quebrei muito, chorei muito, sofri muito, morri muito. Morri pra nascer de novo. Mais forte, mais experiente.

Nunca me arrependi por ter dito o que sentia. Não existe hora certa, momento exato. O amor nunca tem hora. Minhas amigas diziam não-fala-nada. Nunca ouvi. Falava, falava. E quando não sabia falar escrevia. E escrevia bonito. Acho que todas as coisas que a gente faz de verdade são bonitas. Uma vez, com vinte e poucos anos, era enlouquecida por um cara. Ele me tratava super mal (por que as mulheres insistem nesses bolhas?) e eu ficava na volta dele mesmo assim. Ele aparecia quando queria, eu aceitava aquilo que ele me dava (e vivia infeliz). Minha autoestima tinha desmaiado, por isso passei um tempo meio fora do ar, achando que aquilo ia me fazer feliz, que ele me pertencia, que era destino e todas essas babaquices que a gente fica pensando, meio que pra justificar todas as bostas que esses bolhas fazem com a gente - e que a gente deixa, por ser pateta demais e achar que é porque "gostamos demais". Enfim, uma vez movimentei o mundo e mandei pendurar uma faixa perto da casa dele. Ele me falou horrores, disse que eu era maluca, que não podia ter feito isso, que tava expondo ele. Fiquei chocada. Fiz seguindo o coração uma breguice romântica e ele odiou. E a partir daí eu pensei: você não é para mim. A pessoa que é pra mim é aquela que entende todas as minhas bobagens amorosas.

Minhas amigas diziam ninguém pode saber que você está super a fim dele, faz jogo que homem gosta. Quer uma outra verdade profunda? Homem não gosta, mulher não gosta, ninguém gosta. Que mania besta essa das pessoas acharem que jogo é uma boa. Jogo é armadilha. Você está sendo outra pessoa. E essa outra pessoa quer conquistar. Digamos que você conquiste. O conquistado se encantou pela outra pessoa, não por você. Ficou complexo? Se tenta ser outro, o outro vai se apaixonar pelo outro. E você quer que se apaixone por você, certo? Então, não jogue. Joguinho de sedução é uma coisa. Joguinho baixo é outra.

Seduza sendo você mesmo, não tem nada mais sexy.
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