Sobre as drogas

By | 19:42


Hoje a Amy morreu. E eu realmente gostava da Amy. Da voz, por mais que ela esquecesse a letra de alguma música nos shows e mandasse os fãs pra puta que pariu. Por mais que ela mostrasse os peitos na janela do hotel. Por mais maluca que ela era não dá pra negar o talento que ela tinha. É uma pena que as drogas tenham sido mais fortes que a Amy. É uma pena que a gente só pare e pense que existe cocaína, crack, heroína, maconha e outras tantas merdas que destroem corpo e alma quando algum famoso morre. Todo santo dia morre um João, um Marcos, um Rafael, um Zé. E ninguém liga, ninguém anuncia no Estadão. E eles também eram importantes, sim. Tinham pai, mãe, irmão, sobrinho, filho. Tinham alguém que sofria o sofrimento deles. Mas nada disso vira notícia.

Até quando o ser humano vai precisar de bengalas e paliativos? Até quando a gente vai ter que afogar uma mágoa numa garrafa de Caninha 51 (uma boa ideia)? Até quando as noitadas terão drogas para animar? Até quando o dia seguinte terá alguma droguinha para ser suportável? Até quando a gente vai tentar se livrar de algumas dores procurando outras? Até quando a gente vai se enganar e achar que essas merdas resolvem de fato alguma coisa?

Meu avô bebia. Bebia muito. Bebia a ponto de ser alcoólatra. Sinceramente, não lembro dele assim. Lembro das histórias que ele contava, do carinho que me dava. Não lembro da figura dele alta, não recordo nenhum vexame, nenhum fiasco. Mas sei que fazia. Sei que ele de vez em quando dava trabalho, sei que meu pai e meus tios devem ter sofrido bastante. Sei que minha avó deve ter passado o maior sufoco. Ele não era uma pessoa ruim. Mas ele bebia. E a pessoa que ele virava quando bebia era outra. Ou as pessoas já nem sabiam mais como ele era de fato, de tanto que bebia.

Quem usa qualquer tipo de droga se transforma. E essa transformação vai acontecendo devagar, aos poucos. Quando a gente vê já nem lembra mais de como era antes. Quando a gente vê já nem dá pra voltar atrás. Sei que existe aquele papo de ah, pra tudo a gente dá um jeito. Desculpa, mas não é. Não dá. Tem coisa que exige muito da gente. Não é aquela força de vontade não-posso-comer-chocolate. Vai além.

Lágrimas vão e vem, feito onda. Mães acorrentam filhos para que eles não saiam em busca do crack. Adolescentes roubam pai, mãe, transeuntes. Até quando? O que falta? Educação? Conhecimento? Disciplina? Clareza? Força? Eu já experimentei drogas, pura curiosidade. Nunca fui viciada, nunca quis isso para a minha vida. Queria ver o que era. Vi. E não foi bonito. Vi amigos se ferrando, vi gente boa virando ruim. É um caminho difícil, apavorante. E a família se envolve, se une, se doa, sofre.

A gente não pode depositar as frustrações num baseado, numa carreira, num copo de uísque. A gente não pode colocar a culpa da falta de grana, falta de amor, falta de qualquer coisa no crack. A gente não pode achar que fumar um é diversão, relax. Não. É errado. Hoje em dia mais e mais crianças e adolescentes fumam cigarro, maconha, bebem nas festas e voltam trocando as pernas para casa. Os pais não enxergam ou se enxergam acham que é normal. Todo mundo tem um amigo drogado ou chegado na birita. Todo dia vejo mendigos caindo de bêbados. Onde a gente vai parar desse jeito? Onde os adolescentes e crianças vão parar? Onde nossos amigos vão parar? Onde nossos parentes vão parar? Esse problema não é só meu. É seu, do meu vizinho, da sua tia, de todos nós. Está mais do que na hora da gente parar e pensar no que está acontecendo no mundo.
Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial