O bilhetinho no meio da tarde

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Oi, vim aqui te contar que sou do tempo do bilhete. E quer saber mais? Foi assim que comecei a escrever, lá pelos 6, 7 anos. Escrevia bilhetinhos e cartinhas para meus pais. Não sabia que ia me tornar uma escritora. Não sabia que ia viver de palavras. Mas uma coisa eu tinha certeza: adorava juntar letras e, com elas, causar algum tipo de emoção.

Na época, ainda pequena, emoção pra mim tinha gosto de lágrima. Por isso, ficava paradinha esperando meu pai ou minha mãe chorarem. Quando eles não choravam, perguntava sem cerimônia: não vai chorar? Hoje, depois de balzaca, dois livros publicados, coluna semanal em um site e textos quase diários em um blog, entendo que emoção é identificação, é riso, é olho marejado, é calor no peito, é frio na barriga, é algo que mexe de alguma forma com a gente, é uma coisa que muda o dia (nem que seja por um segundo).

Acho que nasci para sentir. Sempre fui muito intensa, quase exagerada. Ao invés de sangue, tenho drama correndo nas veias. Minha vida sempre foi mexicana, com um toque Janete Clairiano. Apesar dos pesares, apesar das cabeçadas, apesar das muitas mancadas sempre gostei de viver assim. Melhor me entregar do que puxar o freio de mão. Por causa da minha forma de viver sempre bati muito com a testa na parede. E sempre doeu (e ainda dói). Mas dói de um jeito bonito.

A gente vive na era do e-mail, do MSN, do ebook, do gtalk, do Facebook, do Twitter. E tudo bem. Tudo bem mesmo. Mas sinto falta do papel, da caneta, do formato da letra, da folha amassada, do cheiro de livro novo. Adoro livrarias. Me sinto em casa. E olha que lá em casa era uma briga, meu pai insistia "tem que ler, tem que ler". E eu lá queria saber de ler? Queria era matar aula, fazer bagunça e festa. Passei a gostar dos livros depois que cresci. Livraria, um bom café, observar as pessoas, não tem nada melhor. Eu gosto do gosto das coisas. E acho que hoje em dia é tudo pá-pum-the-flash. Me cansa um pouco. É tudo rápido, urgente, a gente mal sente tudo acontecer.

Tem gente que se desilude com as pessoas. Se cansam, se decepcionam, se desesperam. Uma coisa é certa: mais cedo ou mais tarde todas as pessoas vão te decepcionar (e vice-versa). Sua mãe, seu pai, seu irmão, sua tia, sua avó, seu amigo, sua prima, sua namorada, seu marido. Não importa o motivo, o dia, a hora. A decepção virá. É inevitável. É coisa de gente. Sentir é coisa de gente, ferir é coisa de gente. Mas isso não quer dizer que a gente deve perder a esperança. Tem gente que não acredita mais no amor. Eu acho bobagem não querer sentir, gostar de fingir. A gente deve sentir o amor e ir fundo no sentimento, mesmo que o amanhã seja incerto, mesmo que a tristeza bata na porta. Pior é resistir.

Desculpe a autoajuda, mas a gente deve transformar as tristezas em melodias bonitas. A descrença em poesia. Pra poder viver. Pra voltar a crer. Tem gente que fala que depois de um determinado tempo tudo vai se perdendo. Que o romance vai embora, que a admiração faz as malas e se manda, que o tesão morre, que tudo aquilo de bonito que tinha no começo vai se desgastando e terminando. Não concordo. Só morre se a gente quer. Só se desfaz o encanto se a gente não faz mais o que fazia no começo. É por isso que hoje, do nada, te mandei um bilhetinho no meio da tarde. O que vale é demonstrar o amor de todas as mais belas - e antigas - maneiras.


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