Louca pra casar

By | 19:23


O casamento mexe com qualquer mulher. Sempre ouvi aquele ditado "bem casado é quem bem vive" e acredito nele. De que vale um papel se a vida a dois é monótona? De que vale um contrato se a rotina é cansativa? De que vale uma aliança no dedo se não existe olho no olho?

É claro que eu sempre quis casar vestida de noiva. Mas, sabe, os sonhos vão trocando de roupa. E de vestido. E de sapato. E de penteado. E de brincos. E de maquiagem. Com 15 anos, eu sonhava em descer as escadas vestida de noiva. Então, meu pai entraria na igreja de braço dado comigo. Eu tentaria chorar de lado, com cuidado, para não borrar o rímel e não estragar o make. Muitos convidados na igreja, o padre falando da saúde e da doença, da riqueza e da pobreza, da alegria e da tristeza. E a gente dizendo sim, sim. Depois, uma festa de arromba. Música, champanhe, dança. Pés cansados, coração feliz.

Eu tinha 29 anos quando saí de casa. Sem descer a escadaria vestida de noiva. Uma parte de mim saiu de casa. Parte das minhas roupas saíram de casa. Ficava o final de semana fora. E alguns dias no meio da semana também. Um tempinho depois, achamos um apartamento que era a nossa cara. Fui até a casa dos meus pais e peguei o resto das minhas coisas. Naquele dia, no meu ex-quarto, eu e minha mãe choramos. Era a despedida. Era o encerramento de um ciclo. Era um começo pra mim. Para a minha nova vida.

Não é fácil ser adulta, pagar as contas, pagar pra ver, começar sem pai nem mãe. A gente se sente engatinhando de novo. É claro que quem mora sozinho desde cedo não sente isso. Mas eu senti. Na minha ex-casa, não precisava me preocupar com roupa limpa, com quem ia fazer o jantar, com o produto de limpeza que terminou, com o interfone que não está funcionando. Na minha ex-casa, as paredes não eram da cor que eu queria, o vaso da sala não tinha o meu jeito, os pratos da mesa não fui eu que escolhi. Na minha casa, se eu não faço, peço ou compro comida eu não como. Se eu não abro a janela ela permanece fechada. Se eu não lavo a louça a pia vai enchendo. Se eu não arrumo a cama ela permanece desarrumada. Não é fácil tomar decisões sozinha, mas é bom. É bom a gente caminhar com as próprias pernas. É bom a gente decidir qual caminho seguir. É bom a gente não ter que dar satisfação. É bom a gente poder ser a gente mesmo. É bom ser dono do próprio nariz. Com todos os prós e contras que isso traz.

Sonhava em sair de casa para casar. Saí de casa para morar junto. E foi muito bom morar junto. É muito bom morar junto. É claro que o dia a dia traz atritos. Traz desgaste. Traz chatice. Traz incomodação. Ei, ontem fui que limpei o xixi da cachorra, hoje é a sua vez. Ei, coloca a toalha para lavar. Tem que comprar mais pão. Pagou a conta de luz? Poxa, eu já pedi pra não fazer barulho enquanto eu tô trabalhando. Por favor, cuidado, não bate a porta. Essas coisas são pequenas perto do todo. Perto do amor de verdade. Perto do alívio que a gente sente ao deitar e pensar meu Deus, eu achei o amor da minha vida. E ele não é um príncipe. Ele é real: tem bafo de manhã, molha o tapete do banheiro, acorda descabelado, erra, tem defeitos, suja a pia do banheiro, de vez em quando faz xixi fora do vaso, mas é atencioso, carinhoso, amoroso e todos os outros osos que um príncipe real precisa.

Foi muito bom morar junto até agora. E vai ser muito bom morar junto até o final do mês. Então, a gente vai casar. A gente vai casar porque o amor sentiu necessidade dessa sensação do "pertencimento", de oficializar, de celebrar. Assinar aquele papel na frente do juiz. Colocar a aliança no dedo. Comemorar com a nossa família. Acrescentar o sobrenome dele ao meu nome. O vestido não vai ser Vera Wang, como o da personagem do filme "Noivas em guerra" (lindo de morrer!). Mas vai ser um vestido off-white muito lindo. Não vai ter buquê, chuva de pétalas de rosas, nem um carro escrito recém-casados. Mas vai ter realidade e amor. Então, a gente vai casar no civil. Uma cerimônia íntima, simples, mas linda. Cada detalhe está sendo pensado para ser um dia inesquecível. Depois, teremos mais um dia inesquecível. Dessa vez será em Paris, onde faremos nosso casamento simbólico. Mas não vai ter padre, nem igreja. Mesmo porque o sim a gente já disse faz tempo.
Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial