Eu tento não sentir saudade, mas é em vão. Não posso simplesmente apagar você da minha vida. Era amor demais. Você foi a minha referência, minha base, meu mundo, meu chão. Posso parecer boba ou clichê, mas você era como uma lanterna que iluminava o meu caminho. Uma espécie de oráculo, que dizia para onde eu tinha que ir, o que eu tinha que fazer. Ao seu lado, me sentia segura e quase feliz. É claro que eu pensava meu-deus-tenho-que-caminhar-com-as-minhas-próprias-pernas, mas ficava adiando decisões, adiando a minha própria liberdade.
Você me dominava com seu amor, com seus ensinamentos, com sua força. E eu te admirava tanto. Até o dia em que parei de admirar. É que uma horas as máscaras caem. Chega um ponto em que tudo desmorona, feito um castelo de areia na beira da praia. E foi o que aconteceu com você. Eram tantos sonhos. A gente tinha tanta vida pela frente.
Acho que eu nunca quis parar para pensar que o seu amor me fazia mal. Porque amar não é tão difícil. O complicado é encontrar um amor que te faça bem, que não te desequilibre, que não te desestruture, que não te coloque para baixo. Um amor que seja um porto-seguro. E que não tenha que disputar, que não te encare como rival, que não veja a relação como um jogo, uma guerra, um campo de batalha.
Te amar foi difícil. Mas era tudo que eu sabia. E procurava ser tão boa para você, chegava a passar por cima de coisas que eu achava que eram essenciais e boas só para te ver feliz. E nunca, nunca era o suficiente. Então passei a me perguntar: será que algum dia você realmente me conheceu? Será que você quis me ver por dentro? Porque eu sou isso que você vê: sou mais sentimento que razão, sou mais grito que sussurro, sou mais pé na nuvem do que no chão. E não me arrependo de nenhum defeito meu, não me condeno e nem me culpo. Me aceito toda cheia de cicatrizes, roxos e falhas. Só queria que você realmente conseguisse me ver. E ainda assim me amar.