As vinte e quatro horas

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Fiquei pensando o que eu faria se só tivesse mais vinte e quatro horas de vida. Sei que esse é um pensamento meio melodramático, afinal, eu não tenho uma doença terminal (não que eu saiba), tampouco  vou viajar para algum lugar que tenha terremotos e afins. Mas o fato é que eu fiquei pensando: o que eu faria?

Em vinte e quatro horas não dá tempo de ir até um lugar lindo e curtir a paisagem. Mal dá tempo de fazer a mala e pesquisar as melhores opções de voo. Em vinte e quatro horas não dá tempo de encontrar todas as pessoas que eu amo, pois infelizmente elas moram em cidades diferentes. Em vinte e quatro horas eu não consigo comer tudo que gosto, senão vou explodir. Também não posso tomar as minhas bebidas preferidas, senão vou morrer bêbada. E eu quero ficar sóbria, para aproveitar cada segundo. Em  vinte e quatro horas eu me sentaria na frente do computador e escreveria. Sim, é isso mesmo. Agora você me olha com cara de espanto: por que não vai abraçar quem é importante ao invés de escrever? Tenho certeza que as pessoas que amo lembram do calor do meu abraço, do brilho dos meus olhos, do som da minha voz, da minha risada inconfundível, até mesmo do meu humor de lima-da-pérsia. Talvez eles precisem fechar um pouco os olhos e buscar lá nos arquivos da memória, mas sei que vão lembrar. Mas eu não sei se eles sabem tudo que eu sinto por eles. 

Todas as vezes que mando um email para meus pais, lá no finalzinho eu coloco um "te amo". Na maior parte das vezes a minha mãe responde que também me ama. O meu pai tem um pouco mais de dificuldade em dizer essas coisas. E eu respeito, é o jeito dele. Ele tem dificuldade em demonstrar os sentimentos. E eu tenho dificuldade em dizer que eu amo olhando no olho. Consigo falar para meu marido, o eu te amo romântico. Mas o eu te amo não romântico nem sempre consigo dizer. Por isso, sempre achei melhor escrever. O papel é muito meu amigo, a tela em branco também. A gente se completa. Fico com medo de parecer boba dizendo que amo, sei que é besteira, mas me sinto assim. Toda vez que abraço e beijo a minha cachorrinha (4083593539463 vezes por dia), falo um eu te amo. E ela corresponde com o olhar doce, com uma lambida cúmplice. A gente se entende. Enquanto escrevo, ela fica deitada ao meu lado. De vez em quando, coloca a patinha entre meu corpo e o teclado. Uma tentativa de dizer ei, estou aqui, me dá atenção. E eu faço carinho e dengo e depois volto para o texto. Ela entende. Mas nem sempre eu me entendo. 

Se eu consigo escrever também deveria conseguir falar, certo? Errado. Sempre me comuniquei melhor com as letras juntinhas em um pedacinho de papel. Acho que vai ser assim até o final da vida. É por isso que se eu só tivesse vinte e quatro horas iria aproveitar esse tempo e dizer tudo que eu não disse. Agradecer tudo que recebi, me desculpar pelas coisas que não fiz, falar da importância que algumas pessoas têm na minha trajetória e no meu dia a dia e, principalmente, deixar claro que eu posso não dizer com todas as sílabas que eu amo, mas eu sinto o amor aqui dentro. E muito. 
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