Quando eu penso que tudo está devidamente encaixotado e muito bem guardado tenho uma surpresa. Não, aquelas coisas todas que tentei organizar, esconder e colocar embaixo do tapete ressurgem. Mais firmes, mais fortes, tentando mostrar que não irão embora assim tão rápido. Bom mesmo seria se os nossos problemas e medos escuros fossem embora ao primeiro pedido. Medo, por favor, me deixa. Medo, por gentileza, sai à francesa. Medo, por obséquio, está na sua hora. Vem que te ajudo a arrumar as malas. Mas ele não arreda o pé. Insiste em ficar. E uma hora as forças te abandonam, uma hora elas chegam ao seu ouvido e dizem "não dá mais". E você se vê meio perdido, exausto de tanta luta, tentando encontrar um lugar onde consiga respirar aliviado. Mas o alívio não chega, a paz não chega, a tranquilidade não chega. E você pensa em desistir de tudo, já que está fraco, sem esperança, sem vontade de seguir adiante nessa batalha que é dura, dolorida e pesada demais. Só que alguma coisa dentro de você grita alto. Essa coisa é a tal força. Ela diz que você não pode se entregar, que é necessário segurar as pontas, aguentar mais um pouco e que sempre há uma alternativa. E te alerta: por que ao invés de obrigar o medo a ir embora você não o acolhe? Por que não pega o medo no colo, faz carinho, dá beijos e abraços? Por que ao invés de lutar contra ele você não o convida para um cafezinho com biscoitos de sequilho? E você repensa tudo, resolve dar uma chance para o medo. Resolve se dar uma nova chance.
Sobre o blog
Clarissa Corrêa
Clarissa Corrêa é escritora e redatora publicitária.
É autora dos livros Um pouco do resto, O amor é poá, Para todos os amores errados e Um pouco além do resto.
Já foi colunista do site da Revista Tpm, do Vila Mulher e do Donna.
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