O feitiço que pode virar contra o feiticeiro

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Era sexta-feira e eu estava em um bar. Uma mulher, de aproximadamente 30 anos, se sentou na mesma mesa que eu e contou que o noivo havia terminado com ela. Eles estavam juntos há 4 anos. Se conheceram através de um amigo em comum, trocaram telefones, começaram a sair, se apaixonaram e iniciaram um relacionamento. Namoraram 3 anos e estavam noivos há um. Estavam escolhendo apartamento e vendo os preparativos para o casamento. Ela estava apaixonadíssima, ele era o homem dos sonhos e da vida dela. Não era perfeito, mas era perfeito pra ela. Planejavam filhos e queriam ter uma casa na praia. Ela estava radiante...até o dia em que ele disse que não estava bem certo do sentimento, não queria casar com uma mulher que ele não estivesse convicto que amava. Além disso, no trabalho, conheceu uma moça que estava mexendo com ele. Fim de noivado. Ela estava triste, acabada, arrasada. E disse que a vida não fazia mais sentido. Chorou, usou quase uma caixa de lenço de papel e tomou 5 doses de tequila. No final, antes de ir para a casa, disse: "Vou me vingar dele!". Levantou e foi embora.
Pois bem, vamos desconsiderar o fato de eu nunca ter visto aquela cidadã na minha vida. Ela nem me conhecia, apenas perguntou se podia sentar ali, disse que estava precisando desabafar (amizades em mesas de bar, ocorre com freqüência) e eu escutei. E essa história me deixou encafifada porque me fez pensar no significado da vingança.
A vingança é uma forma de amor. Acho, inclusive, que é a forma mais profunda do amor. É o amor doído. Negado. Devolvido. Rejeitado. Despachado. Vomitado. Olha, linda, eu não tenho certeza que quero ficar contigo. Peraí, seu filho da puta, não tem certeza? E os anos que passamos juntos? Escolhemos uma casa! Pensamos nos nomes dos nossos filhos e na cor da parede da nossa sala. Experimentei alguns vestidos de noiva. Eu QUERO casar contigo, que palhaçada é essa? Os convites estavam quase prontos. Como assim não quer? Não está preparado? Porque não disse antes? Mas ele foi embora. Restou o que? O teu amor. Amor preso na garganta. E surge no peito aquele desejo de vingança que nada mais é do que uma manifestação do amor que o outro não quer mais receber, trocar, compartilhar. E aí a gente enfia o amor no saco. E tenta jogar no lixo. Mas o lixeiro não quer levar. E o saco volta pra dentro do peito. E de lá não quer sair.
Não sou a favor da vingança. Sou a favor do romance. Do amor. Dos sonhos. Lua cheia. Sonhos. Música. Poesia. Filmes que têm final feliz e assim por diante. Quando o outro rejeita o que queremos dar não podemos armar planos mirabolantes e nem decidir partir para o não-vou-mais-querer-ninguém. Isso passa. Demora muito, pouco, mas passa. E a vingança é um tiro no escuro. Pode dar certo...ou te acertar.
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