O amor acaba ou esquece de acontecer em tempos diferentes. Bom seria se nós deixássemos de nos amar no mesmo segundo. Eu não sofreria e você não choraria. A tristeza e a falta de sabor seriam objetos sem valor. Não sei em qual dia e em que minuto me apaixonei por você, mas posso te afirmar que o frenesi me pegou desprevenida. E eu não gosto de ser pega de surpresa, você sabe. Quero tudo preto no branco, certezas e constatações. O tempo me trouxe a resposta: o seu amor não lembrou de acontecer. O meu aconteceu por mim, não por você. Não posso te amar e, com isso, me amar de volta. Quem tinha que me amar era você. A verdade se apresentou de um jeito dolorido e as minhas emoções mais profundas terão que ser colocadas debaixo do meu tapete imaginário. O seu amor-Alzheimer fez com que eu me sentisse uma idiota. Não uma idiota qualquer, mas uma idiota idiotamente ridícula. Você queria o meu perdão? Tome. Pegue. Prove. E não me devolva, leve ele com você. Te perdôo. Mas não consigo, por enquanto, me perdoar por te amar. Você me magoou e fez com que eu sofresse, chorasse, te desejasse, fizesse planos e sonhasse acordada com você. E agora você precisa do meu perdão para a sua consciência ficar em paz. Você precisa fazer as pazes com você, pois bem, faça. O tempo inteiro você agiu de um jeito egoísta, nunca pensou em mim. Agora, mais uma prova. O tal perdão era para você encarnar o personagem legal e bonzinho. Bonzinho para você. Bonzinho para poder ganhar presente do papai Noel. Não me arrependo de nada, tenha certeza. Meu único arrependimento é não conseguir me desculpar, não ter a decência de me perdoar. Só quero que esse gosto passe. E que a emoção ridiculamente idiota me abandone. E me deixe, assim como você me deixou aquele dia.
Sobre o blog
Clarissa Corrêa
Clarissa Corrêa é escritora e redatora publicitária.
É autora dos livros Um pouco do resto, O amor é poá, Para todos os amores errados e Um pouco além do resto.
Já foi colunista do site da Revista Tpm, do Vila Mulher e do Donna.
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