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Presentes. Peru. Papai Noel. Ceia. Meia-noite. Abraços. Feliz Natal. Só que eu não acho o Natal feliz, nunca achei e não é agora que vou achar. Odeio Natal. Quando eu era criança até me enganavam, eu até me deixava enganar. Hoje em dia não me vendo, não me compram com presentes. Nem com nada. Não tenho preço.

Acho uma chatice aquele social e a obrigação de ser feliz. Saco! Não suporto sorrisos falsos e o ter-que-ser. Tenho que ser alegre, tenho que estar arrumada, tenho que encontrar os familiares, tenho que contar os meus projetos e tenho que falar da minha vida. "E os namorados?", pergunta aquela prima em terceiro grau (acho graça que ela pergunta no plural, como se eu fosse uma Hilda Furacão). Antes eu dava longas explicações. Agora eu digo que estão todos bem, tenho um em cada canto do mundo. Não tô nem aí, pode pensar que eu sou uma vagabunda, cansei de dar satisfação da minha vida. Ninguém paga as minhas contas e ninguém tem que meter o bedelho nos meus assuntos.

Odeio essa imagem que fazem do artista. Artista não é vagabundo! Escritor não é um vadio! É uma profissão dura, é osso, mas é como ser médico ou advogado. Não, não. Para vovô ser médico é tudo. Ser advogado é o máximo. Eu tenho o meu valor, quer você saiba ou não. O que eu faço me enche de orgulho e satisfação. Quer ficar feliz por mim, só um pouco? Consegue? Se não consegue, azar o seu. Eu estou exausta de ter que provar alguma coisa por aí. Eu estou exausta de ter que fingir alegria no Natal. Acho uma data qualquer e preferia estar em casa, de pijama, assistindo um dvd e comendo comida chinesa. Com uma cerveja gelada. Nada de peru. Nada de porco. Nada de vinho. Champagne pode ser, mas champa não combina com comida chinesa.

É desestimulante saber que terei que contar todas as minhas proezas. Pior ainda é saber que ninguém vai valorizar os meus feitos. Valor se dá para quem atende no pronto socorro. Valor se dá para quem está diante de um tribunal. Valor se dá para quem auxilia os outros. Pois bem: eu auxilio os outros com as minhas palavras. Eu presto socorro com o que eu tento transmitir. Eu fico no tribunal e faço você rir, chorar, ficar bravo. Nunca deixo você indiferente, não passo batido.

Comilança, falsidade, sorrisos sem vontade, troca de presentes e as perguntas bonitinhas sobre a vida profissional, amorosa e social.

Só para deixar claro: eu estou bem. Só não gosto de Natal. E eu poderia estar melhor se estivesse com você. Nem me importaria em detalhar a minha vida e ser colocada na parede.



PS. feliz natal, que ninguém perturbe vocês e que aquela tia não dê meias novamente! beijos
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