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Acordei com aquela música que me faz lembrar você na cabeça. Sei lá porque a música me traz essa recordação sua. Tomei o café com os acordes me sacudindo, fui para a aula e abri um livro: lá estava o seu nome. O personagem da história tinha o mesmo nome que você. Tentei manter a calma, ignorei o fato e mentalizei isso-não-está-acontecendo-é-alucinação.

Cheguei em casa, tomei banho, liguei o som: a música estava lá. Você está me cercando? O que está havendo? Eu aqui fazendo um esforço danado para nem lembrar da sua existência e tudo me lembra você? Descobri que o inconsciente é poderoso. O consciente também. Posso fazer uma força maluca para você não ficar rodopiando na minha sala de estar mental, mas não tenho como arrancá-lo do coração. Pelo menos por agora. O tempo vai curar. Frase clichê, antiga, velha. Mas sei que ele cura. Por favor, não demora, preciso sair de trás das grades. Não quero mais ficar aqui. Descobri outra coisa: quando a gente quer esquecer, coisinhas corriqueiras surgem. Como assim? Fácil: antes o seu nome aparecia pelos livros e eu nem dava bola. As músicas eram minhas, nossas, suas. Você era meu. Agora tudo mudou: então tudo lembra você. Se passa um carro da cor do seu acho que estão me perseguindo. Se alguém berra o seu apelido na rua acho que é um sinal. Se aquele filme que nós adorávamos passa na televisão acho que é uma mensagem divina. Só que não é nada disso: eu apenas, mesmo não querendo, estou atenta. No fundo tudo ainda lembra você. Até mesmo tudo que eu não queria.

Dia desses fui parar no cardiologista e ele disse "querida, o teu coração é perfeitinho".

Você se enganou, doutor.


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