Da boca pra fora

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Eu me sinto uma farsa. Isso mesmo: uma enganadora, farsante, personagem de seriado besta que passa no pior canal da TV paga. Olho para dentro de mim e vejo o quê? Uma criatura cheia de esquisitices amorosas, que acredita em um mundo cheio de fantasia e emoção viciante. Uma pessoa que fica tentada a ir além dos próprios sonhos para buscar (tentar?) criar o seu rastro de luz. Ou seria uma fonte geradora de energia? Sei lá.

Eu, no meu universo babaca, acho que posso mudar as pessoas e, quiçá, o mundo. Creio que aparo arestas muito bem, obrigada. E acho que conto com um esquadrão de forças impressionante. Meus passos vagos e débeis têm alguma importância para a história da humanidade?

Me sinto fingida. Dou colo para quem precisa, dou a mão para os amigos, seguro a onda de quem eu amo. E quem segura a minha? Olho para os lados, para baixo, para o alto (talvez procurando um sinal) e encontro o quê? Nada. Ninguém, a não ser aquele desconforto de saber que no final das contas nós temos somente nós mesmos. Não, isso não é ruim. Isso é prova de que a maturidade está batendo na porta.

Eu queria continuar fingindo. Era tão mais fácil dormir no quarto da minha mãe, pedir para o Papai Noel a Barbie Bailarina, dormir depois do jantar, ir para a escola e ter problemas do tipo a Natália puxou o meu cabelo.

De qualquer forma eu continuo tentando canalizar correntes, direcionar os ventos, escrever linhas retas, misturar as cores certas...nem sempre dá. Sou uma só. De vez em quando me transformo, nós sabemos. Mas a minha essência é única. E um pouco forçada. Costumo fazer uma força tremenda quando as coisas não caminham bem. Sorriso-durex, olhar-tá-tudo-bem-por-aqui e afogamento da sensação de falta-alguma-coisa-na-minha-vida.

O bom é que eu sei que nós nascemos e vamos morrer com essa sensação de estar precisando. Já viram que estamos sempre precisando? Preciso de dinheiro, preciso de amor, preciso de um sapato, preciso de um chocolate, preciso de uma birita, preciso de um cafuné, preciso de carinho, preciso de férias, preciso tirar 10 na prova, preciso de música, preciso de sexo, preciso de uma boa noite de sono, e assim sucessivamente. E assim vamos vivendo. E precisando. Uma das características do ser humano é ser infinitamente insatisfeito.

Mas eu estou aqui. De pé e com a boca aberta esperando a voz sair e dizer que não adianta, continuo seguindo no embalo das emoções. Abraçando e beijando as fantasias. Dormindo e acordando nos braços dos sentimentos puros. Porque é assim que eu sei viver.
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