Era uma vez uma fada de cabelos loiros e voz quente. Ela possuía o dom de aproximar as pessoas, espalhar encanto e encher pequenas e grandes vidas de magia e sonho. Tinha segredos, pó-de-estrelinhas e coração de chocolate. Falava de amor, sonhava com um amor; fugia do amor. Era uma vez um homem-rocha. Arredio, rústico; parecido com uma pedra bruta. Caía, rolava, não quebrava. Em um final de tarde sem sol surgiu uma rachadura e, dentro dele, algo doce. Sabor diferente, viciante, perigoso. Ele era romântico, tinha os braços repletos de tatuagens estranhas e seus olhos contavam histórias. Ela era atrapalhada, tinha um gênio de onça e um olhar com reticências.
(...)
Ainda lembro daquele dia, posso te contar passo a passo. O sol estava se pondo e minhas pernas tremiam. Algo me dizia que aquele seria o começo do fim. Você abriu a porta e tentei manter a pose. Uma canção suave perturbava a minha mente e parece que você percebeu meu jeito sem graça. Eu sorria com os olhos e mordia os lábios para não demonstrar o que estava sentindo naquela hora. Por quê? Estávamos ali para resolver o que faríamos. Tudo soava confusão e eu estava atrás de alguma certeza. Então você sentou ao meu lado, meu corpo começou a arrepiar, senti o calor da sua pele e o ar estava com o seu cheiro. Você não disse nada, pegou a minha mão e colocou no meio das suas; nunca fui tocada por mãos tão macias e precisas. Eu queria te olhar e falar tantas coisas que nem sei explicar. Parecia que você estava me entendendo, não fez perguntas. Sua mão percorreu a minha nuca, depois meus cabelos e sua boca acabou encontrando a minha. Nos beijamos um longo tempo e eu coloquei a cabeça no seu peito. Não me sentia confortável, mas me sentia segura. Me sentia bem, mas levemente confusa. Ficamos quietos, havia muito para ser dito. Durante algumas horas o silêncio falou por nós. E ele foi quebrado. Tínhamos que resolver as nossas vidas. Minha barriga estava cheia de borboletas e eu pude ouvir o seu coração. O seu olhar era terno, quis te encher de cuidados. Te abracei de um jeito que sua cabeça ficou no meu ombro e seus cabelos ficavam no meio das minhas mãos. Seu riso foi solto e você disse que iria acabar dormindo; isso não podia acontecer, pois você queria ficar acordado me observando. E foi então que eu descobri que os seus olhos contam histórias. Já era noite e eu tive que ir; queria ter ficado, mas fui. A despedida foi estranha, cada abraço foi demorado, estávamos prevendo; será?
Não é tristeza, nem dor. Não é saudade, nem melancolia. Talvez seja só o reflexo do amor. E a vontade de me sentir viva mais uma vez.