De cabeça para baixo

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Meu quarto está pelado. Fiquei até com pena, ele deve estar com frio ou se sentindo desconfortável. Nu e exposto. Faz alguns anos que a minha vida vai sendo empilhada, engavetada e encaixotada. Tudo no lugar, às vezes os lugares fora de simetria, mas eu e ele sempre nos entendemos bem. Meu quarto. Com armários, portas, gavetas, caixinhas, porta-retratos, bilhetes, papéis e papéis e papéis-por Deus, quantos papéis!-notas, recibos antigos e lixo emocional. Cada pedacinho de papel tem um significado, traz uma lembrança. A caixa de fotos estava explodindo, pensei que ia sair o Homem-Aranha ali de dentro. Sempre ouvi falar que não se joga foto fora. Sei lá se é crendice, mas...
Sentei no chão, liguei o som e comecei a remexer na minha história. Boletins escolares, atestados, certificados, troféu (fui campeã da corrida de estafeta quando tinha uns 12 anos), agendas, diários, coisas que eu não queria me desfazer, cartas, cartões, cartinhas, bilhetes, bilhetinhos, anotações e cadernos, cadernos e mais cadernos. Sou a maior possuidora de cadernos e blocos e cadernetas e bloquinhos e, meu Deus, joguei muita coisa fora e meu coração doeu e apertou muito mesmo e nem é drama, é a mais pura verdade, eu mal consegui respirar. Ufa! Três sacos de lixo (daqueles e-nor-mes!) cheios atéééééé ficarem bem pesados. Juro! Meu quarto ficou vazio. Joguei o Mickey fora. Logo o Mickey! Era uma recordação bonita de quando eu era criança, da primeira vez que fui pra Disney. Mas me desfiz dele. Dele e daquele anãozinho que eu adorava também. Queimei umas fotos. E umas coisas pessoais.
O que não uso me desfiz. O que ainda importa e é necessário guardei. O que fiquei na dúvida pensei-mas não muito, eu estava decidida a limpar tudo! Na verdade tudo que é meu vai permanecer comigo. Momentos, vivências e etapas. Não posso acumular coisas, a energia acumula e a vida não se renova. Abri espaço nas gavetas, deixei prateleiras vazias para o novo se sentir mais à vontade. Tirei pó dos livros; agendas e diários foram pro lixão. É importante olhar para a frente, o que passou não sai nunca de dentro da gente. Mas quero ficar renovada e preciso de espaço. Me despedi do antigo e estou tentando praticar o desapego, é difícil, confesso. Mas é importante tentar. E entender que, por mais que a gente se desfaça de coisas materiais, o que é invisível sempre é mais importante. O que sentimos nunca pode ser jogado no lixo, só se nós quisermos, mas aí é outra história...
(post não foi ilustrado porque tô numa fase clean)
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