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Sábado, tempo ruim, madrugada, ninguém em lugar nenhum. Vou ver aquele filme, pensei. Aquele, aquele que eu sempre choro quando vejo. Às vezes é assim mesmo e eu gosto de me maltratar. Vi o filme e chorei e comi uma caixa de amanditas e chorei mais um pouco porque ter comido a caixa toda me deixou com um peso na consciência enorme. Depois de me recuperar do mini-trauma resolvi que precisava de companhia. Chorei mais, a única companhia que eu queria...bem, melhor nem recordar. Abri o armário de bebidas em busca de uma luz (já percebeu que sempre encontramos a luz em armários com várias garrafas de infinitos tamanhos, tipos, cores?) e, alívio, encontrei. Vou me embriagar, pensei. Que coisa mais fundo do poço, uma pessoa com cara de monstro chorão, entupida de doce e, pra completar, pinguça. É, a vida não é mesmo justa. No meio do pensamento alcoolizado decidi que eu ia te tirar da minha vida, riscar do mapa, apagar, mandar embora. Você e qualquer lembrança. É engraçado como o passado é ladrão, vive nos roubando. Rouba o sono, a paz, até mesmo a esperança. Sabe aquela esperança e aquela fé de acreditar que vai dar certo um dia? Sabe aquela força que fica vibrando e dizendo calma, os dias bons estão quase aí? O passado rouba tudo isso. Você pensa no passado, vê que foi a pessoa mais feliz e que podia ter abraçado e guardado no peito aquilo tudo tão cuidadosamente e de um jeito tão carinhoso e pleft, acabou. Finish. Fim da linha. Pode descer. Você tem que descer. Mundo real, presente, aqui, agora, anda, abre os olhos. Olha a vida aí, caminha. E o passado te atira no meio da rua, você bate com a coluna no paralelepípedo e fica ali lamentando as dores e tentando ver em que raio de lugar foi parar o seu coração. Coração, você tem um. Tem e quer fingir que ele nem existe. Assim como o amor, ele vive em você. Vive e está com uma saúde perfeita. O amor vive e você resolve ignorá-lo. Nem dá bom dia, nem boa tarde e muito menos boa noite. Dá um gelo. Resolve matá-lo. Bye, bye amor. Tenha uma boa morte. Adiós. Até a próxima vida. Você enfia uma faca nele, dá uma paulada, um tiro, enforca, afoga, bate, soco na cara, pontapé, voadora, chute, nada. Imortal. Você tenta. O amor te vence, te derruba.

E ainda ri da sua cara.

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