É tudo culpa dela

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Não tenho uma religião bem definida, mas tenho uma própria religião. Antes que pareça confuso, a explicação (junto com rimas toscas): fiz a minha. Acredito em uma coisa de cada uma e elaborei um próprio método religiosístico. Apesar disso não sou a Dalai Lama das Letras, acho melhor avisar que estou na tpm. Se é que existe essa coisa de próxima encarnação gostaria de mandar um recado para o Todo-Poderoso-Lá-de-Riba: olha, meu amigo, na próxima vida eu quero nascer homem. Eles podem fazer xixi em pé, não é necessário o xixi-aéreo-boing-747-em-banheiros-públicos-em-estado-de-calamidade-sújica, a cutícula deles nasce muito mais devagar do que a nossa, a unha deles não lasca, eles não têm cólica, os peitos não ficam parecendo o Corcovado visto por um Smurf, a bunda em geral é mais dura, eles não precisam depilar a virilha com cera quente, não têm necessidade de depilar as axilas com cera quente e nem as pernas com cera quente e ainda têm a sorte de não estarem sujeitos a queimaduras por depiladoras jumentas inexperientes em depilação com cera quente. Obrigada, Senhor. Eles não sofrem dor de parto, não têm que fazer hidratação no cabelo, nem sabem o que são pontas duplas, não precisam de mais de dois pares de sapato, não têm que passar creme para a sola dos pés, para a rachadura dos pés, para as mãos, para as unhas, para deixar a bunda dura, para celulite, para prevenir estria, para acabar com a estria que já nasceu, cresceu e se reproduziu nas coxas, para a orelha, para prevenir marcas de expressão, para acabar com aquela ruguinha que nasceu ontem e já está aprendendo a caminhar, pára tudo. Existe creme, se vocês não sabem, pra passar antes de malhar. Ele te gela tão profundamente que parece que empurraram você numa piscina de gelo, sem champagne. Tem o que esquenta, aqueles de massagem. Vocês não imaginam a quantidade de creme que existe no planeta! Tem até o do Efeito-Cinderela, que promete dar um up na face das viventes. Uma belezura. Minha avó usou, aprovou e parece mais nova do que eu, é um fiasco, não saio mais com ela na rua. Adoro cremes, se eu fosse homem acho que seria travesti. Amo plumas, coisas brilhosas, all star rosa, perfume, creminho, tem uma máscara fabulosa da Mary Kay (não, já falei que não me pagam nada pela propaganda) de argila que é um luxo facial. É, eu ia ser um homem travesti. Um travesti que em alguns dias usa salto e em outros all star e calça jeans.


Eu queria falar da tpm e acabei desviando o assunto, me perdoe. Choveu durante muitos dias, pensei que ia virar uma perereca gorda. Você sabe, em dias feios a tendência é comer besteirinhas. Você sabe, sapos gostam de chuva. Você sabe tudo, não é mesmo, sabichão? (ou sabichona, vai saber, hoje em dia o mundo é tãoooo moderno) Ontem, no auge da chuva, resolvi escrever. Escrevi, escrevi, escrevi. Rasguei tudo, rasguei tudo, rasguei tudo. Descobri que não posso escrever durante a tpm. Fico um pouco agressiva. Não, fico chorona. Não!, acho que fico sensível. E furiosa. Ai, na verdade eu fico tudo ao mesmo tempo, não consigo me entender. Desisti de escrever e assisti um filme, PS. Eu te amo. Vi pela quinta vez. Tenho essa tendência-estranha-repetitiva, assisto filmes muitas vezes, talvez seja um pouco patológico, vou pedir ajuda para os universitários. O filme é lindo e é de chorar.


Acho que já contei que choro até com o comercial da Doriana. Pra quem usa só manteiga eu aviso: é margarina. E eu choro mesmo. Mas o comercial que até hoje mais me fez chorar foi o do Zaffari. Pra você que não mora aqui a tia dá a definição: Zaffari é supermercado. Eles fazem comerciais lindos no final do ano. Eu vejo, choro e torço para que passe logo de novo, pra chorar mais uma vez. Será que eu adoro chorar? Será que procuro um motivo pra puxar a corda das lágrimas? Será que eu serei o dono dessa festa? Chega de será, vamos ao ontem. Depois de lavar roupa com Omo-que-lava-mais-branco resolvi fazer um bolo enquanto a pipoca estourava na panela. Puxei um cobertor, deitei com uma bacia de pipoca e um prato com dois pedaços de bolo quente. E, lógico, Coca Zero. A light já saiu de moda, sou muito atenta ao que é a onda do momento. O momento é zero. Então fiquei pensando: o que adianta o animal se entupir de pipoca e bolo e balas de café e tomar Coca Zero? Gente magra toma Coca normal, já percebeu? Não está nem aí para as calorias. Gordo, quase-gordo, semi-gordo, em processo de gordura, gordinho, quase-gordinho, semi-gordinho, cheio, quase-cheio, semi-cheio, cheinho, quase-cheinho, semi-cheinho, exuberante, quase-exuberante, semi-exuberante e seres com excesso de gostosura em geral é que tomam Coca Light, Coca Zero, Coca Emagrecedora, Coca Não Vou Te Deixar Obesa, Coca Me Toma Que Não Faz Mal.


Tomei Coca Zero, comi pipoca, bolo e repeti tudo, inclusive a Coca, pra dar uma equilibrada. Vi o filme, chorei, sequei as lágrimas e senti o cheiro de Omo-tá-lavando-mais-branco na minha mão. Ô, vida dura. A máquina desligou, estendi a roupa dentro de casa, chovia lá fora. Pra acompanhar a chuva resolvi chorar, sou solidária. Fui ao banheiro fazer xixi sentada, já que sou menina, e me desesperei. Eu parecia um panda, borrada pelo rímel. Na verdade eu parecia um panda inchado. Chorei mais quando me vi, eu estava péssima. Resolvi ver umas fotos, peguei a Caixa de Fotos do Passado e comecei a sorrir: que lindinha eu era quando bebê. Que bebê bonito! Olha, aprendendo a caminhar. Primeiro dia na escola. Primeira medalha ganha na Corrida de Estafeta. Primeira foto do Primeiro Porre. Quantas recordações! Que horror, vestido de quinze anos brega. Como é que pode? O que era moda há mais de dez anos hoje é um terror. Mas amanhã, acredite, será moda de novo! Por isso eu acho que quem faz a moda sou eu e não as revistas. Choro, de novo. Como é que eu fui usar aquele cabelo, Alá meu bom Alá? Eu não tinha vergonha de sair na rua? As pessoas não tinham vergonha de mim?


Chega de filme. De fotos. De lavar roupa. De escrever. De pensar besteira. De comer besteira. Vou ligar pra uma amiga e falar amenidades. Trim-trim. Oi, oi. Bobeira, bobeira. Papo vai, papo está indo, papo foi. Quando volta o namorado?, ela perguntou. Ai, só no mês que vem. Já tá com saudade?, disse ela. Claro, inclusive quando ele foi chorei um monte, chorei muito, chorei até ficar parecendo o Jason da Sexta-Feira-Treze. Hahahaha, que besta. Peraí. Ela riu de mim e disse que eu era besta por chorar. Que criatura insensível. Desliguei e adivinha? Chororô.


Na próxima encarnação decidi nascer traveco. A alma é feminina, mas eles não têm tpm.


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