Os trinta segundos

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(em outras palavras: são inevitáveis aqueles momentinhos-tô-esperando-você-fazer-alguma-coisa. e a coisa geralmente não é feita. culpa nossa, esperamos demais. nossa culpa, falamos de menos.)




Existe um momento crucial na vida de todo mundo. É o momento em que tudo precisa acontecer. Você estudou, precisa passar no concurso que fez. Você pintou o cabelo, precisa que digam nossa-que-lindeza. Você mandou uma carta, precisa da resposta. Você pediu para arrumar a porta da garagem, precisa que o cara faça - e rápido. Você está nervosa, precisa de um calmante. Você está carente, precisa de atenção. Finalmente o ponto de partida. Ou de chegada?

Se você está carente você está carente. A culpa não é sua e nem do outro, jogue nos dias, atire nas costas do fim do inverno, da mudança da lua, das catástrofes mundiais, da sua tensão pré-durante-pós-menstrual. Coloque a culpa no mundo. Mas você está carente e ponto. Se você está assim automaticamente está sensível. E chata. E a fim de arrumar qualquer coisa para brigar. E a fim de procurar algum motivo para rodar a baiana, a goiana, a paulistana e a alagoana.

Estou de tpm. Sei que é um assunto recorrente, sei que já falei disso outras vezes, sei que me repito, sei de tudo, não pense que não sei que já falei porque eu sei, já falei sim, tá legal? Entenda: se uma coisa me acompanha uma vez por mês, todos os meses, todos os anos, é natural que eu faça do tema, do assunto, uma constante. Juro que eu não queria ter tpm, é chato, me sinto mal, fico brava, fico nervosa, fico sensível, fico jururu, fico, fico, fico, é um inferno tanta ficação e eu sou uma pessoa muito, mas muito agitada e de vez em quando acho até que eu deveria procurar outro planeta para morar.

Ontem o meu humor resolveu entrar em uma montanha-russa. Acordei feliz, falante, faceira. Você sabe, quando acordo assim preciso dividir com o mundo os meus blá blá blá's. Então distribuí os meus falatórios e tagarelices por aí. Eu estava realmente feliz, me divertindo na montanha-russa. Para quem não sabe: eu adoro montanha-russa, aquele frio na barriga e aquelas milhares de voltas e ôôôô, que coisa deliciosa. A noite foi chegando e sei lá que pane cerebral ocasionou a minha revolta. De vez em quando isso acontece. Então levei um carimbo no centro da testa: carente! Lógico que todo mundo tinha que perceber, afinal, o mundo gira ao meu redor e eu ligo para a minha própria vida, a Rainha do Egoísmo.

Eu estava em um momento de chatice crônica enchendo os ouvidos do meu namorado, coitado. Sei que isso também já aconteceu com você. Lá pelas tantas eu disse que era rebelde, ele concordou e eu perguntei: como assim, você me acha rebelde? Por que a gente faz uma afirmação e se a outra pessoa concorda a gente fica de cara? O ser humano é impossível de entender. E acredite: as mulheres são mais ainda. Fiquei realmente brava com ele. Não bastasse isso fiz todo um drama, você sabe que sofro de tripla personalidade, uma delas é a Maria do Bairro. Fiz um drama e disse que ia dormir. Aí entra o título do texto.

Deitei. Trinta segundos. Os trinta segundos são os momentos cruciais, são a espera, são a decisão. E o telefone não tocou. E nada aconteceu. Trinta, quarenta, sessenta, uma hora, uma hora e meia, peguei no sono. E ele não ligou. E eu esperava que ele me mandasse, ao menos, uma mensagem. Ei, meu amor, não fica assim, vai passar, eu não quis dizer que você era uma rebelde desgraçada. Então acordei hoje de manhã e lembrei de ontem, me dei conta do quão egoísta eu sou de vez em quando. Ele estava trabalhando, me ouvindo, me agüentando e fazendo gracinhas pra eu desficar rebelde e chata. E quando eu digo sou-chata-né ele sempre diz claro-que-não. Mas eu sou egoísta. Você também é assim?

Os famosos trinta segundos são aqueles que você espera e tem quase a certeza de que o outro compreenderá os seus reais desejos e fará as suas vontades num passe de mágica. Os trinta segundos são os momentos em que o seu coração acelera, seu peito aperta na espera de um passo, de um gesto, de algo que lhe ofereça algum tipo de consolo. E nem sempre ele vem, pode apostar. Por isso eu digo: não espere que o outro adivinhe o seu pensamento e entenda de que tipo é a sua carência. Fale, diga. Explique o que você sente e precisa. Ninguém tem bola de cristal.

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