Pontos femininos

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''As mulheres gostam que lhes digam palavras de amor. O ponto G está nos ouvidos. Inútil procurá-lo em outro lugar.''
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(Isabel Allende)
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Amor é amor, sexo é sexo. Eu sei, você sabe, nós sabemos (será?). Os mais modernos conseguem distinguir com facilidade um do outro, eu não. Seriam eles mais modernos mesmo ou é tudo uma grande enganação, só pra parecer mais descoladinho-só-quero-expressar-e-concretizar-os-meus-desejos-sexuais-não-quero-saber-de-amor-portando-não-me-venha-com-discursos-amorosos. Não conheço um ser humano que não queira ser amado. E desconheço gente que não gosta de sexo. Estou mentindo, bebês não gostam, pois são bebês e nem sabem o que o ato significa. As vovós cansadas e usadas e já gastas também não devem mais querer saber da coisa.
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Antigamente os homens casados tinham, teoricamente, o amor em casa; sexo também, mas nem tudo era permitido fazer com as esposas. Então era aquela coisa meio morna e respeitosa na residência e lá no puteirinho caindo aos pedaços o negócio pegava fogo. Prostituta, profissão mais antiga do mundo, todos já conheceram uma. Ou viram. Ou ouviram falar. Para falar a verdade acho um pouco deprimente você pagar alguém para ter sexo, existem outras formas mais baratas e saudáveis de obtê-lo. Alguns amigos dizem que é mais sossegado, a puta faz, acontece, você manda e ela obedece. E no dia seguinte ela não espera que você ligue a convidando para jantar. Uma noite, nada mais. Dinheiro na mão, calcinha no chão, fim de papo. Outros homens ainda não saíram lá do Tempo Das Cavernas, acham que não podem realizar fantasias com suas respectivas mulheres, noivas, namoradas. Falta diálogo, sempre achei que tudo é ajeitável. Uma boa conversa, eu gosto disso, você daquilo, então vamos unir os gostos e todo mundo fica gozadamente feliz.
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Nem tudo está perdido, alguns homens realmente evoluíram e falam abertamente sobre os seus desejos, sem procurar fora do quarto qualquer outra alternativa. E as mulheres? Para acompanhar o processo masculino, creio eu, algumas resolveram adotar o clássico sexo-hoje-e-amanhã-sem-telefonemas. Noite, uma bebidinha, sorriso, oi, tudo bem, qual o seu nome, vamos para um lugar mais calmo, ET, telefone, minha casa. Bingo, casa do cara! Ou casa da mulher. Ou motel, tanto faz. No final tudo acaba em p... você sabe. Acabou, cada um para o seu lado, foi um prazer, até logo. Curtir o momento é legal, mas acho meio mecânico, sem vínculo, superficial, artificial. Bem, você sabe, não consigo não ter vínculos, sou cheia deles, preciso deles, não consigo fazer isso: conhece, beija, gosta, dá, goza, vai embora, eu acho estranho. Não condeno quem faz, cada um sabe o que quer, mas duvido que alguém efetivamente queira de verdade relações desse tipo. Correção: duvido que alguém queira de verdade noites ou tardes ou manhãs desse tipo. Isso não é relação nem aqui e nem na Jamaica, só se for relação sexual, única e exclusivamente. Sem abraços, sem carinhos, sem nada depois. O único depois que existe é colocar a roupa e adeus, a gente pode marcar outras vezes, sabe como é, todo mundo precisa de uma foda fixa pra fazer a manutenção. Enferruja e dá teia de aranha por falta de uso.
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Não digo que o sexo casual (quem inventou a expressão?) seja horrível. Tem muita gente que fica que nem macaco, de galho em galho, de corpo em corpo e gosta desse estilo despreocupado. Só acho que eles deveriam se preocupar. Primeiro, deve ser horrível ficar no troca-troca. Segundo, duvido que eles não sintam falta de um abraço antes de dormir. Ou de uma companhia para assistir televisão no sábado à noite. Sexo é bom, queima calorias, faz um bem danado para a pele, para o cabelo, para o humor, para unha encravada. E ainda produz endorfina. E te dá adrenalina. Mas só sexo acho muito pouco. Pequeno, sabe? Não é um bom tamanho. Em um curto prazo não deve dar trabalho, mas com o passar do tempo se torna cansativo.
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Você deve estar pensando que sou a romântica do pedaço. Amor é amor, sexo é sexo. Eu sei, você sabe, nós sabemos (será?). Os mais modernos conseguem distinguir com facilidade um do outro, eu não. Sexo com amor, amor com sexo é melhor, mais gostoso, mais seguro, mais tudo, mais mais. Não sei distinguir um do outro, como muitas mulheres, como muitos homens (as frases ficaram estranhas, não como ninguém, só chocolate). Eu não sou a romântica do pedaço. Certa vez, vi em um filme o sujeito dizendo que queria fazer amor com a mulher. Eu acho que fazer amor deveria ser presenteado com a faixa expressão-mais-brega-do-universo. Pior ainda é dar nome tosco para os "órgãos genitais". Fica algo muito formal, do tipo "meu bem, introduzirei neste momento o meu pênis na sua vagina úmida, com licença, vamos fazer amor". Que nomes bem feios: pênis, vagina, não simpatizo com eles. Tem gente que fala xexeca, xereca, xerereca, xana, pomba (que coisa terrível, pra mim pomba é bicho, aquela da paz), e por aí vai. Os mais melosinhos resolvem dar apelidos carinhosos, tais como: rosinha, florzinha, cheirosinha, etc. Imagina a cena: "amor, vou comer a sua florzinha". Acho bem, bem, bem, eu disse bem, broxante. Péssimo. Lembrei que uns chamam de perereca. Perereca me lembra duas coisas: o bicho nojento e a chapa que a minha tia usa. Um dia a perereca dela caiu dentro do prato de sopa.
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Para mim é buceta mesmo. Desculpa, você deve ter se horrorizado, mas eu chamo assim. Buceta, pau. São uma dupla, se gostam muito. E não faço amor, não sei como é isso. Faço sexo com amor, é diferente. O amor já nasceu, já foi feito, pronto. E enquanto você está ali, "fazendo amor", tudo se mistura, amor, sexo, outras coisas, palavras de amor, baixarias no ouvido. Mas ficar o tempo inteiro eu-te-amo-meu-amor é dose. Você pode transar fazendo e olhando com carinho e pode trepar mesmo, puxando o cabelo, falando palavras impublicáveis, fazendo coisas impublicáveis, tudo junto e reunido e ao mesmo tempo, é bem bom. Pau é pau, buceta é buceta e o meu namorado me come, assim mesmo. Sem essa de "nós dois sob uma noite de luar nos tocamos lentamente, nos olhamos, senti um volume na calça dele que foi aumentando e a minha vagina ficou enlouquecida de calor, blá, blá, blá e então ele me penetrou". Como dizem os cariocas, fala sério. Se eu leio um conto erótico assim chego a ficar com dor no maxilar de tanto rir.
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Concordo com a frase da Isabel Allende, acho que o Ponto G está nos ouvidos das mulheres. O Ponto A, B, C, D, E, F, todo o alfabeto. Acho, também, que o mundo precisa de mais amor. E tenho a mais absoluta certeza de que nem só de palavras de amor vive a mulher: a gente gosta de uma boa sacanagem filha da puta também.
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(Se todas assumissem talvez não levassem tanto chapéu de touro por aí!!)
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