Reticências

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É tão fácil a gente se vender, eu poderia enumerar as minhas qualidades e ficaria tudo bem, obrigada. Você lê, se identifica aqui e ali, pensa eu também sou assim e fica tudo numa boa. Ultimamente tenho recebido e-mails, scraps e palavras bonitas, de todos os lados. Gente de perto, de longe, que me conhece e que nunca me viu na vida. Por trás disso aqui tem eu. Por trás das palavras nas quais você se enxerga existe alguém que as escreve. E por trás do que está escrito tem uma pessoa normal que vive uma vida não tão normal e possui uns dias normais e outros bem fora do comum.
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Não vou levantar a bandeira de frases conhecidas e batidas dizendo que eu adoro gente anormal, que sou bem louca e a super revoltada do alfabeto brasileiro. Não, minha gente. Gosto de gente normal, mesmo sem saber o que na verdade é isso tudo. E mesmo sem saber se, de fato, sou tão normal assim. Não faço a linha doidona-sou-bem-louca, não uso drogas, só chocolate (e ele vicia, eu garanto!) e não sou o tipo de mulher que grita ao ver uma barata. Mato e pronto, se ela grita eu não sei. Não gosto de raves e dessa barulhada toda, na verdade gosto de gente silenciosa, apesar de falar alto. Bebo cerveja e não tenho muita paciência pra assistir futebol na tv. Entro em sites de fofocas porque acho importante a gente saber o que acontece no mundo das celebridades, do contrário (acredite!) você acaba sendo vista como uma alienígena no salão de beleza. Experimente fazer as unhas conversando sobre o Gustav, Hanna ou qualquer outro furacão de nome elegante que assombrou os americanos. Não sou uma revoltada contra o sistema, diria que minha revolta é para com as pessoas. Se você entrevistar cinco transeuntes perto do Mercado Público e perguntar "Qual o nome do prefeito de Porto Alegre?" os cinco vão errar. Se perguntar o nome de quem está no governo do Rio Grande do Sul acho que piora. Não lembro, ai, esqueci! Mas eu aposto todos os meus brincos (tenho alguns de estimação, hein?) que se você perguntar o nome da protagonista da "A Favorita", eles não vão titubear. Nem por um segundo. Acho isso deprimente. Desestimulante. Desesperador. E todas as palavras que entram na categoria da desgraça.
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Leitura é importante, assim como a informação e o conhecimento. Noticiários, jornais, revistas, sites, blogs, filmes, documentários. Está tudo aí, na sua frente, é só ter paciência e curiosidade. Acho um pé no saco quem gosta de vidinha. Tem muito por trás disso, a vida não é feita de problemas afetivos, amizades conturbadas, noitadas, sexo, drogas, rock, trabalho chato. Por sinal, acho a vida muito simples. Se você tem problemas de coração vá ao cardiologista ou ao psicólogo mais próximo, mas eu garanto que a melhor prevenção é cortar o mal pela raiz. Primeiro defina as suas prioridades e como você não quer ser tratado. Já sabe? Perfeito. Agora só escolha o que acha que merece. Quando a gente sabe o que quer tudo se torna mais simplinho. Amizade não tem que ser conturbada. Quem é amigo entende os seus piores dias e as suas mil e vinte ocupações. E quem é amigo mesmo não precisa estar sempre colado em você. A alma precisa de liberdade. Noitadas, sexo, drogas e rock precisam de férias. Aproveite a noite e leia um livro interessante. Sublinhe os trechos principais, reflita sobre ele. Dê bastante, mas saiba ao menos a marca de pasta de dente que o sujeito usa. Arrume uma droga alternativa, pode ser dança, ginástica, aula de inglês, qualquer coisa que lhe dê prazer de verdade. Mude o estilo de música, nem só de rock vive um ouvido. Quanto ao trabalho chato, ninguém resiste muito tempo em um local que tenha um clima pesado, com gente pesada. A alma precisa ser leve. E de vez em quando a gente precisa mesmo chutar o balde. Nunca é tarde demais, você nunca estará velho demais. Quem usa essas desculpas argumentativas pra mim é um completo debilóide.
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Não sou um exemplo e tampouco sei de tudo. Tem uma pilha de livros no meu quarto que eu quero e preciso ler, fiz uma lista de filmes que pretendo assistir, meu gosto musical de vez em quando é bem duvidoso, tô com uma espinha no queixo horrorosa que está me deixando aborrecida, detesto quando uso palavras como aborrecida, são feias. Gosto de usar palavras que acho bonitas, acho que palavra tem que ser bonita, mas nem sempre uma palavra soa bem. Por isso geralmente eu repito ela baixinho, falo ela algumas vezes pra ver se tem movimento. A palavra tem que dançar no ouvido da gente. Sair da boca e ir dançando, passo lento, firme, belo, até o ouvido. Palavra bonita é assim e eu escrevi quase um parágrafo inteiro a mesma coisa. Gosto de dizer a mesma coisa de formas diferentes. Mas, acredite, não sou a toda-poderosa da comunicação. Muita coisa eu não sei e ainda bem que eu sei. E eu erro muito, de vez em quando me acho uma porcaria de gente. Principalmente quando tô com raiva, porque não sou uma santa, eu sinto raiva. Sinto tanta raiva às vezes que chego a me imaginar pulando na jugular de alguém.
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Eu escrevi isso tudo com um propósito, enrolei e enrolei e enrolei de novo e não cheguei no ponto crucial da questão: não sou a escritora perfeita, nem o ser humano fenomenal que vezenquando acham. Meu humor varia muito, parece que tenho uma montanha-russa desgovernada e rapidamente violenta dentro de mim. Os mais próximos sabem. Também é bom deixar claro que quem lê o meu blog e os meus textos não me conhece. As pessoas criam imagens e, com elas, expectativas. Em certos dias sou um doce de pessoa, em outros sou uma Meméia. Pode apostar. Eu agradeço de coração todas as coisas bonitas que você aí que me lê e todo dia entra aqui pra ver se tem um texto novo diz a meu respeito ou escreve diretamente pra mim. Agradeço, também, aos que mandam críticas construtivas. E quero, por último, agradecer aos que acham tudo o que eu escrevo um lixo.
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Eu sou uma pessoa. Uma pessoa que escreve. E só. O resto se transforma em reticências.

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