Quase-sim

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Andei pensando (De novo?, dirá você. De novo!, digo eu.) sobre os que têm a coragem guardada no subsolo. Para os desavisados: não é pra qualquer um ter a dádiva de possuir a coragem sentada no sofá da sala, primeiro andar. Ou lendo "O pai Goriot" na biblioteca de casa, segundo andar. De vez em quando a coragem fica mesmo é lá embaixo, num lugar com pouca claridade e algum pó namorando as teias de aranha e o mofo, triângulo amoroso marcando presença na falta de luz.


Outro dia assisti Sex and the City , o filme. Sou fã do seriado, é divertido e possui diálogos com sacadas cheias de humor inteligente. O filme estreou no cinema há algum tempo, mas acabei assistindo em dvd faz poucos dias. E fiquei pensativa a respeito de algumas coisas. Um homem quer casar com você e chega no dia do casamento e ele decide que não quer mais casar com você e simplesmente vai embora enquanto você fica com cara de caneca e buquê na mão. Sim, ainda bem que você tem amigas que te livram das garras da vergonha, pois a igreja está cheia de convidados, afinal, é um casamento, o seu, é um evento e o recinto está repleto de gente, conhecidos, amigos, aqueles-que-temos-que-convidar-só-pra-constar e meu-deus-do-céu-que-tipo-de-amor-é-esse? Se você não sabe do que falo e está me achando uma maluca, alugue o filme e assista e descubra o porquê da minha rebeldia quanto ao tema.


Se um homem te ama ele te ama. Parece óbvio, e é. Se alguém te ama, seja homem ou mulher ou um cachorro, vai querer o seu bem, em qualquer dia, hora e local, mesmo com medo de compromisso. Na verdade, quem ama não tem medo de compromisso. Porque o "compromisso" não é uma obrigação, não é uma formalidade chata e áspera, quem te ama acha tudo leve e quer fazer por fazer. Quer casar por casar, não porque é bonito fazer uma festa pra 300 convidados e chamar o Fulano-de-Tal-do-Momento pra cantar no casório. Quem quer, faz; quem ama e quer casar, casa e casar não vira algo com peso, uma coisa absurda e que arrepia e dá medo. E quando você ama e está certo de estar fazendo o certo jamais deixa o objeto do seu amor, leia-se: a pessoa amada, plantada na porta da igreja. Existe um ditado que diz que "bem casado é quem bem vive", eu concordo. Um papel, uma cerimônia, uma festa, nada disso tem importância, aliás, até tem. Tudo isso tem importância, mas a essência do casamento não é uma aliança ou alguém que apresenta a carteira de identidade pra servir de testemunha: vai muito além. A essência é o amor e ele nunca anda sozinho, o respeito está ao lado, de braço dado.


Não gosto de quem diz frases-feitas-do-tipo-homem-é-assim-mesmo-e-mulher-é-burra, não concordo. Não são todos os homens que "são assim mesmo". E nem todas as mulheres são burras, mas me surpreendi com uma parte do filme. A Carrie (Sarah Jessica Parker), que é a minha personagem favorita, me decepcionou. Como uma mulher que é abandonada na porta da igreja, leia bem, na por-ta da i-gre-ja, volta pro cara e depois casa com ele? Como? É o amor, você dirá. Que amor é esse?, te pergunto. Não entendo amores que não dão a mínima para os seus sentimentos e desejos. Um casamento é algo planejado. Você quer? Quer mesmo? Então tá, meu amor, eu também quero, vamos fazer assim, desse jeito, tá tudo bem? É tudo muito conversado, elaborado, listas são feitas, detalhes são ajustados. Os dois estão de comum acordo? Ótimo, então agora vamos casar, seja onde for, pode ser na praia, na montanha, em Las Vegas, na cidadezinha ao lado, no cartório, na igreja, em um luau, com 2 pessoas, 20 pessoas, 2.000 pessoas, não importa, o casal escolhe, decide, vai lá e faz. É uma decisão bem acertada e consciente. Eu, por exemplo, um dia tinha lá um sonho de vestido-de-noiva-festa-buquê-igreja-muita-gente-e-festerê. Um dia, eu disse. A gente cresce, os sonhos vão trocando de roupa. Hoje eu ainda tenho uns desejos-mulherzinha-sim. Dispenso a festa-buquê-igreja-muita-gente-e-festerê, mas confesso que fico com o vestido, sei lá, acho bonito. Nada esvoaçante, sei lá, acho brega. E nada de muita-gente-festança-e-coisa-e-tal, sei lá, acho pouco útil. Vou te explicar: os noivos nunca aproveitam 100% as festas de casamento, pois eles cansam, é chato tirar foto com trocentas pessoas, é chato ter que manter a compostura, não poder tirar o sapato, dar abraço em amiga de prima de avó que é pentelha. Além do mais: sempre tem alguém que sai falando mal da festa. Acho que as festas são para os outros, quando, na verdade, têm que ser para o casal. Então eu prefiro casar assim: eu, ele, o padre-pastor-sei-lá-um-p-qualquer e alguém, pois alguém sempre tem que servir de testemunha, você sabe. O vestido vai estar junto. E uma flor na mão, uma bem cheirosa. E pode ser na praia, depois a gente joga a flor no mar, pulamos sete ondas e ficamos vendo a lua cheia e ouvindo o silêncio do vento.


Sabe o papo da coragem? Foi proposital. Você acha que é necessário ter coragem para casar? Andei pensando (agora aguenta!): é necessário ter amor. E vontade, apenas. Com a duplinha em ação, a coragem sobe e se sente em casa. Acho que é preciso ter coragem, e muita, pra mandar pastar um cara que diz que te ama, te dá um apartamento enorme e lindo e depois te diz, por telefone, que não conseguiu casar com você. E o cara, por sinal, tem que comprar Gelol pra passar nas bochechas, pois certamente vai ficar cheio de hematomas.
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