Happy end

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Sempre que assisto a um filme imagino o final. Já começo prevendo o desenrolar da trama, a última cena. E descobri: eu gosto é do clichê. O mocinho tem que vencer, a moçoila tem que ficar com o suposto amor da vida, seja ele um príncipe, um bêbado ou um mendigo. Acredito em happy ends, a vida é sem graça quando eles não dão as caras. É por isso que eu, de todas as formas, sigo acreditando.


Acredito em tira manchas, em esmaltes que duram por mais de uma semana sem lascar, em cremes que prometem reduzir a celulite em apenas quinze dias, acredito no poder do pensamento e acredito muito que o chá verde traz inúmeros benefícios para a saúde. Mais do que isso, acredito em amor eterno. Desculpa, vai, mas eu acredito. Acho uma graça aqueles casais que têm setenta anos (e vai te virando) que saem juntos para dançar. Acho um amor casalzinho que vai até a feira no sábado de manhã. Acho bonito quando o amor existe mesmo - e dá provas concretas. O que seriam ou quais seriam essas provas? Quando você ama e é de verdade o olho brilha de um jeito diferente, o olho fica em paz, o sorriso dança mesmo parado. Fica ali pra todo mundo ver na sua testa: eu amo sim. Então eu acredito.


Sejamos racionais: no mundo existem quadrilhões de pessoas e muitas delas são lindas. Outras são charmosas, elegantes, inteligentes, bem-sucedidas, interessantes. A pessoa nem precisa ter rosto angelical ou corpo escultural, basta ela ser interessante, atraente. A atração surge com um jeito de falar, gesticular, caminhar, se portar. E o mundo está cheio de gente que tem algo a oferecer. Enxergamos, falamos, lidamos e cruzamos com essa gente todo o santo dia, seja no trabalho, no supermercado, no parque, na livraria. No mundo também existem pessoinhas atiradas, homens e mulheres que não respeitam se a outra pessoa é casada, noiva, enamorada, tanto faz, eles se jogam. Mas não vamos falar da categoria me-atiro-em-cima. Estou aqui pra falar do que pode acontecer.


Você está em um relacionamento. Todo mundo sabe que um relacionamento tem altos e baixos e médios e de vez em quando tudo é lindo e de vez em quando fica meio feio, mas tudo bem, você ama, ele te ama, vocês se amam. E se cuidam e se respeitam e se valorizam e, e, e. E um dia pode aparecer uma terceira pessoa no meio. Ninguém quer viver uma relação-três, todo mundo quer uma dois. Bom, se você é descolado e curte um trio parada dura, boa sorte, seja feliz, cada um na sua. Eu gosto de dois, tá mais do que bom. Pois bem, surge uma terceira pessoa que pode ser nova ou renascida lá das trevas. Você sabe que quem vive nas trevas volta e meia resolve aparecer, não sabe? O nome disso é recaída. Recaída é quando você se deixa levar por um sentimento que já existiu e que teoricamente foi embora, mas se a recaída ocorre é porque teoricamente não foi embora, ainda deixou marcas. Existe, também, a caída. A caída é quando surge um terceiro novinho em folha, boa safra, top de linha e que faz o seu coração pular feito canguru na Sapucaí. E agora? E o amor da vida? Não era pra sempre?


Odeio ser racional, odeio, odeio, odeio. Vamos ser racionais só um pouquinho? Vai ser rápido, eu prometo. Ninguém está livre disso. Você vive uma relação estável, gostosa, bacana, boa. Você é feliz. Mas um dia, do nada, alguém pode pintar na sua vida, um velho e rodado ou novo e sem dono, e aí? Me diz o que você faz com o seu sentimento? É forte, não é forte? Vale a pena, não vale? As coisas precisam ser pesadas, pensadas. O que está em questão não é o que fazer, mas o que pensar. Você entra em um relacionamento botando fé. Como pensar que um dia a pessoa com a qual você sonha e planeja uma vida a dois pode virar apenas uma pessoa? Uma pessoa que vai ficar apenas em algumas fotos e na memória e em alguns momentos da sua vida?


Eu te amo hoje (porque tenho certeza disso), amanhã já não sei (porque posso ter uma recaída ou conhecer alguém que seja melhor do que você). Frase cruel, não é? Só que é bem, bem verdadeira. Me ajude, não consigo ser assim, muito menos pensar desta maneira. Talvez o problema seja eu, pode ser comigo a coisa, nasci torta, sei lá. Não consigo ter sentimento embaralhado, se eu amo, eu amo e sei disso e é isso que eu quero. E pra mim é pra sempre, ainda que o sempre dure só cinco anos. Mas não gosto de pensar que o pra sempre pode durar cinco anos, então penso que o pra sempre é pra sempre mesmo. E termino ali o filme. Bem ali, bem na parte em que tem o happy end, bem na hora em que eles se abraçam e rodopiam e aquela chuva fina começa a cair e a música surge e os créditos começam a aparecer. Fim.
(Porque além de acreditar em amor eterno eu amo o encanto.)


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