Nos bastidores

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Quando eu era adolescente adorava um telefone, ficava horas pendurada contando abobrinha e jogando conversa fora. Trim trim, eu pulava da onde quer que estivesse só para ser a primeira a atender. Ainda bem que as coisas mudam e as pessoas evoluem.


Detesto telefone. Não gosto que liguem para a minha casa, um número assustador de pessoas descobriu a hora exata em que estou entrando no banho, me preparando para jantar, assistindo a um dvd. Atendo meio contrariada, aquele alô de quem não está com um pingo de satisfação. E celular então? Existe algo mais chato? Sábado. Churrasco com os amigos. Você está em um ambiente fechado e dali a alguns minutos começa o festival. Hits da modinha concorrem para ver quem está podendo mais. Acho cafoníssimo. Isso sem falar na falta de senso do ridículo de alguns elementos. Você ligou e a pessoa não atendeu? Deixe recado ou mande uma mensagem pedindo retorno ou adiantando o assunto. Jamais, por favor, jamais cometa a indelicadeza de ligar mil e vinte e quatro vezes e deixar, a cada ligação, um recado adorável.


Eu realmente adoro uma incomodação, tanto é que tenho Orkut. Sem falar no MSN, Skype. MSN é uma beleza, sempre tem um revoltado com você. Tá aí? Não vai falar comigo? E a chamadinha de atenção? Que coisa gostosa, hein? Não sou fã do Orkut, entrei há alguns anos porque acho uma boa forma de retomar alguns contatos e reencontrar aquela gente que ficou perdida lá atrás. Então, um dia, uma rapariga fez um Ctrl + C e Ctrl + V com umas fotos minhas, fez um profile como se fosse eu e, evidente, fiquei possessa e cancelei a conta. Ei, se quer pegar foto e se passar por alguém, por favor, pegue uma da Claudia Schiffer. Tenha dó. Recebi alguns e-mails. Volta, volta, voltei. O povo gosta de futricar no meu Orkut por causa do blog. Passei a usar como instrumento de trabalho e divulgação.


Estou acostumada a ver o meu nome circulando por ali. Trechos, citações, frases, pedaços de textos. O pessoal chega na maior educação, adicionam, falam uma coisa ou outra, elogiam. Ótimo. Gosto disso. E também gosto de críticas. Mas adoro uma coisa chamada respeito e educação. Acho lindo quem consegue encaixar essa duplinha dentro de si. Seguidamente alguém me mostra ou eu enxergo algo escrito por mim sem crédito ou com outro nome. A internet é assim: você escreveu, publicou, outro vai lá, copia na cara dura e coloca o seu nome se quiser. Eu disse se quiser. Não importa se você gastou horas da sua bunda na cadeira, não importa se você fez os seus neurônios trabalharem incansavelmente. Esses seres que se apossam do que você escreve simplesmente não ligam. E ainda mandam você para bem longe. Quando acontece um caso desses e eu sei quem foi, vou até a página da pessoa e deixo um scrap educado, explicando o quão desagradável é ver o seu trabalho sem o menor reconhecimento. Sempre, eu disse sempre, foram gentis, se desculparam e pronto, colocaram o crédito. Resolvido o problema. E ainda se tornam meus "amigos".


Semana passada conheci a figura mais mal educada do universo inteiro. Como vocês podem desconfiar: ela tinha umas frases minhas na página inicial do Orkut. Falei com ela e descobri que, além de ignorante, a pobre bicha não possuía nenhum neurônio em atividade. Ela me disse que o Orkut era dela e que ela colocava o que quisesse. Sim, concordo. Perdi meu tempo tentando explicar uma coisa incompreensível para a pirralha insolente, que insistia em dizer que eu estava tendo um "piti de escritorazinha de nada". Pasme, ela ainda me deu conselhos do tipo "continue escrevendo no seu blog, lindinha, eu continuarei copiando o que quiser". Agora vou contar a verdade: se você quiser me irritar, acrescente qualquer "inha" ao adjetivo. A queridinha fez com que eu tivesse vontade de ultrapassar a tela e mostrar para ela quem era a "escritorazinha de nada". Tão "de nada" que ela copia. E coloca na página inicial.


Cada um faz o que quer. E na hora que quer. E da forma que quer. Mas temos que saber os limites. Alguns limites estão em forma de leis, outros em forma de placas. Só que, por trás de tudo, existe uma infinidade de limites imaginários. Você não os enxerga, mas sabe que ali estão. Você não os toca, mas sabe que ali se encontram. Internet é um território desconhecido, sem dono e sem leis, indivíduos se escondem atrás de nomes, codinomes, rostos, corpos. Ali você faz o que quer, cria o seu próprio limite.


A tecnologia avança e o seu sossego diminui para, quem sabe, fazer você entender que não é só na vida real que você se estressa. O mundo virtual é de grande valia, mas repleto de elementos que não carregam a noção do pode-não-pode dentro de si e isso, acredite, pode te trazer muita, mas muita dor de cabeça.
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* texto escrito em 27 de fevereiro de 2008.
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