Esse é o Brasil!

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Todos os dias pela manhã eu tomo café e leio o jornal. Confesso que ando de saco cheio com as notícias. Libertinagens carnavalescas, Roger Flores que não quer ser fotografado ao lado de sua amada Deborah Secco (sim, famosos querem sossego!), Alexandre Marreco fazendo declarações para Stephany Brito (e ocupando meia página da capa de um jornal local). Ah, ia esquecendo do mais importante: o Big Brother (êêê, Brasil!).


No sábado, ao passar os olhos pelo caderno de esportes, vi o David Beckham. Lindo, famoso, gentil. Beckham, por ser Embaixador da Boa Vontade do Unicef, foi desfilar seus braços tatuados pela África. A matéria fez com que os meus olhos enchessem de lágrimas, pois contava a história de uma garotinha pequeníssima e desnutrida que, assim como tantas outras crianças africanas pequeníssimas e desnutridas, estava em uma das barracas de um acampamento da cidade de Makeni, Serra Leoa. Beckham aparecia em uma foto de mãos dadas com um menino, abaixado, sorrindo e entregando florzinhas amarelas para Senyo, a garotinha que citei. Beckham é um jogador de futebol conhecido, casado com a ex-Spice Girl igualmente conhecida, tem uma dinheirama danada, mora em uma mansão que deve ter uns dez quartos e é notícia em todo o mundo. Mas é humano e faz uso da própria imagem para ver se as criaturas acordam e percebem que muita gente precisa de ajuda, já que não adianta fechar os olhos e fingir que nada acontece.

“É o que diferencia este time de famosos. Ao deixar o conforto de suas vidas para essas visitas, mesmo rápidas, eles escancaram a alienação do mundo.”
(Mário Marcos de Souza, Jornal Zero Hora)


Alguém quer mesmo esfregar os olhos e acordar? Realmente é mais fácil ligar a televisão e ver o festival de bundas no Big Bullshit Brasil. Não vou ser hipócrita e dizer que nunca assisti a esse programa. Já vi sim, mas encontrei a luz (aleluia, irmão!) e hoje em dia acho babaquice. Não acrescenta nada, acho até que emburrece. Um dia a tv estava ligada e pude ver o comportamento da minha querida conterrânea, que se denomina “miss”. De miss ela não tem nem o branco dos olhos, é de uma vulgaridade total e, por sinal, vi uma reportagem em que os pais da tipa diziam ter um orgulho danado dela por ter chegado até ali. Fiquei pasma! Que família é essa? Orgulho de quê? De ver a filha fazendo tigrada no BBB? Esse tipo de coisa me incomoda, as pessoas perderam os critérios e a noção do ridículo. A parte que mais me comove é quando os bê-bê-bês se descontrolam, incorporam papéis dignos de dramalhões mexicanos da pior espécie e/ou se dizem "determinados". Eles chegaram ali com um objetivo, certo? Imagino o quão difícil é ficar saracoteando entre a piscina, o ofurô, as festas e as fofocas.


Eu até falaria bem do programa se fosse uma disputa verdadeira, por exemplo, sorteio honesto de um número X de pessoas humildes e decentes e que precisam de um milhão. Agora alguém dirá que “todo mundo precisa de um milhão” (inclusive eu!). Certo, concordo, mas até onde eu sei todos os participantes são modelos, fizeram uma pontinha na emissora tal, têm curso superior, foram bem criados, conhecem o exterior, são de classe média ou classe média alta. Ninguém ali é pobre. Ninguém mora na vila. Ninguém ganha um salário mínimo. Ninguém sorri sem um dente na frente. A casa dos brothers é um concurso de quem aparece mais. O nosso país já tem uma cinderela baiana oxigenada, a nossa querida Carla Perez. As big sisters não precisam se empenhar pra ver quem ganha no rebola-rebola e consegue segurar melhor o tchan.


É uma pena que brothers and sisters sairão da casa direto para a Playboy e Ilha de Caras. Eles podiam usar o dinheirinho e os cinco minutos de glória pra dar uma voltinha pela África.


Beckham, sou tua fã.

* de 30 de janeiro de 2008.

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