Coisas do saco do bom velhinho

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Ho Ho Ho. Nesta época passa uventa, peruzenta, presententa, saquenta e lotadenta eu tenho visto muitas coisas. Feias, para falar a verdade. Nos últimos dias a minha caixa de e-mails anda atrolhada de mensagens denegrindo a imagem do Seu Noel. Que maldade, minha gente.


Eu, como toda criança mimosa, acreditava em Papai Noel. Escrevia cartinha para ele e quando dezembro começava eu imediatamente melhorava o meu comportamento. De menina-sardenta-demônia eu passava a menina-sardenta-anja. Num piscar de olhos. Ou de dezembro, como queira. No dia vinte e quatro eu era uma flor vestida de gente. Amável, educada e agradável. Até beijava sorridente aquelas tias velhas que têm pintas enormes peludas no queixo, do tipo que quando você chega perto (ai-ai-ai-ui-ui!!) espeta. Sabia que à noite o Papai Noel vinha. Um dia o meu mundo se desfez. Vi que o Papai Noel era mais precisamente o Papai Paulo, meu pai. Era ele quem colocava os presentes perto da árvore, auxiliado pela minha mãe. A Mamãe Clara Noela. Que decepção. A mesma coisa foi com o Coelhinho da Páscoa. Ele deixava pegadas pela casa, sabia? As marcas das patinhas dele ficavam pelo corredor e por tudo. Até que o meu mundo se desfez de novo e novamente e mais uma vez, pois descobri que o coelho era uma farsa. Era o Coelhinho Paulo. E as pegadas eram de farinha. Mas isso tudo eu deixo para contar em abril.


O fato é que a imagem do Papai Noel, para mim, é algo puro e fofo. Não gosto que falem mal dele. Ele é que nem a Xuxa: fez parte da minha infância e, bem ou mal, nutro um carinho eterno por certos personagens que foram importantes na minha vida. Tá certo que eu gostava da Xuxa antes do silicone, antes da Xaxa, antes do Xafir, antes de ouvir boatos que ela tem um caso com a Xivete Xangalo. Eu gostava da Xuxa na época do Praga, Dengue, eu queria ser paquita! Xou da Xuxa, Xu xu xu xá xá xá, aquela nave, o meu sonho era entrar ali! Sim, é quase Natal e estou num momento saudosista. Eu chorava quando a nave subia e a Xuxa ia embora. Prefiro deixar aquela imagem da Rainha dos Baixinhos. A Xuxa de hoje é outra. Mas gente, por favor, o Papai Noel de ontem é o mesmo de hoje e vai ser o mesmo de amanhã e o mesmo de sempre. Vestido de vermelho, barba branca, óculos, barrigudinho, cara de meigo, sorriso querido. Ele pega as crianças no colo, ho ho ho, dá pirulito e faz um carinho nos cabelinhos delas com as mãos envolvidas pelas luvas brancas. No mundo atual isso tudo pode ser perigoso, eu sei. Tempos de pedofilia. O Papai Noel pode estar disfarçado, ho ho ho e sentar as criancinhas no colinho para fazer sabe-se lá. Sabe-se lá. Mas o meu mundo, desculpa aí, não é o atual. Sou lá de trás.


Por gentileza, não me mandem coisas feias, chatas e bobas do Papai Noel. Tem gente que é devotinho, tem vó que é beatinha. Para mim, o Papai Noel é que nem a Virgem Maria. Que nem o Santo Antônio. Que nem o Menino Jesus. O Papai Noel foi, durante muito tempo, o meu Salvador. Por causa dele eu acreditava que o mundo podia ser mais aconchegante, bonito, gentil. Depois que descobri a verdade sobre o bom velhinho, sei lá, criei um mundo no qual as coisas ainda podem ser aconchegantes, bonitas, gentis. Um mundo que só entra quem é convidado. Um mundo que me protege, abriga, ampara. Ho ho ho. Em épocas como a nossa, qualquer refúgio é válido, qualquer porto-seguro é aceito. Faça o seu. E, por favor, neste Natal não dê só presentes, cartões e abraços molengos. Dê amor. Sorrisos de verdade. Abraços com vontade. Dê mais amor. Mais sorrisos. Mais abraços. E nunca, nunca deixe de acreditar no seu próprio Papai Noel.
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