Você fez um trato, mas ele foi de boca, sem papel, assinatura, advogado ou testemunha. Vale? As provas concretas são inexistentes, a não ser a sua palavra-e a da outra parte envolvida. Vale? Não tem nada escrito, filmado, fotografado. Vale? Olha, pra mim vale. Trato é trato. Tudo pode ser conversado e ajeitado. Sou super a favor do diálogo. Posso dizer, “desdizer”, combinar uma coisa e depois voltar atrás. Desde que diga. Cresci ouvindo que as palavras têm poder. E acho que quem tem medo de se expor é extremamente imaturo. Crescer é enfrentar não só os nossos medos, mas ter a coragem de desafiar os nossos muitos eus.
É lógico que as atitudes contam, não basta falar e falar e ficar só no falatório e cruzar os braços lindamente pra ver o universo sentar ao seu lado e tomar um café. Você tem que agir. Mas falar é uma forma de ação. Por isso as palavras têm um peso enorme. Com uma simples frase você pode tornar o dia de alguém muito mais feliz, com uma palavrinha desencaixada você consegue ferir profundamente uma pessoa, e assim por diante.Eu tenho mania de falar sem pensar e isso acarreta uma série de mal entendidos. Em contrapartida, em algumas situações penso demais, perco a hora e falo bem tarde o que era pra ter sido dito muito antes do despertador tocar. Existe aquela coisa de momento certo, hora certa e outras coisas certas. Só que eu nunca fui certa e nem ligo pra isso.
Essa coisa de momento e hora e local e dia e jeito e forma não existe. Você fala quando tem vontade, quando se sente livre. Sim, nós precisamos estar livres pra fazer a voz sair. E se você não souber falar, escreva. Cante. Grite. Dance. Faça mímica. Mas coloque pra fora o que está atrás de uma grade pedindo pelo-amor-de-deus-me-deixa-sair.
“As mulheres gostam que lhes digam palavras de amor. O ponto G está nos ouvidos. Inútil procurá-lo em outro lugar.”
(Isabel Allende)
Pior do que fazer mau uso de uma palavra é vestir qualquer peça de indiferença. Se falar é o ato de usar palavras, logo, utilizar as palavras é exatamente o contrário da indiferença. É fazer striptease. E quando a gente fala sem pensar, fala o que o coração ta sentindo, sem medo, sem receio, sem ficar pensando no que o outro vai achar é um striptease com música, velas, aromas e esperança de que, no mínimo, o outro valorize o que você está fazendo.
Ninguém é obrigado a sentir igual, mas as pessoas devem ter cuidado com o que está dentro do outro, afinal, já pensou se for você?
*texto de 22 de janeiro de 2008.