Dezembro chegou. Ele, o temido mês. Ele, que tenho medo. Ele, que chega correndo e passa voando. Ele, que me faz (re) pensar na vida. Ele, que me atormenta. Ele, que traz consigo luzes de Natal, canções de Natal, comidas de Natal. Ele, que vem para me lembrar que odeio Natal. Ele, que termina com fogos de artifício. Ele, que faz todo mundo fazer retrospectivas. Ele, que forma filas em lojas. Ele, que adora uma decoração de Papai Noel. Ele, que faz a gente gastar dinheiro. Ele, que traz presentes. Ele, que traz peru e passas de uva. Ele, que reforça a minha teoria mandem-as-passas-de-uva-pastar-em-outro-lugar-detesto-passas-meu-senhor. Ele, que faz todo mundo virar bonzinho pro bom velhinho tirar algo do saco. Ele, que é um mês chato, pois é só nele que o povo lembra que existe gente que necessita de afeto, casa, comida, roupa lavada e amor. Ele, que nos faz agradecer, pedir e querer. Em homenagem ao mês que se inicia coloco aqui um texto da Magali Moraes. O texto é uma oração divertida, que já andou sem eira nem beira pela internet, já rodou com outros nomes, já fez e aconteceu. Inclusive já virou anúncio da Renner. Leia e se divirta.
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"Senhor, me ajude a nunca desistir de ser mulher.
Coloque um espelho no meio do meu caminho entre a lavanderia, o supermercado, o sapateiro, o colégio e a locadora. E que, ao me olhar, eu goste do que veja.
Não deixe que eu passe uma semana sem usar um batom bem vermelho, uma bota bem alta ou um jeans bem justo.
Proteja meus cachos do vento e os brincos e anéis dos olhares invejosos.
Nunca deixe faltar na minha vida comédias românticas e boas depiladoras.
Deixe que eu fecho os registros e as janelas. Mas, por favor, abra algumas portas. Nem que seja a do carro.
Se eu estiver com vontade de chorar, faça com que eu chore um dilúvio. E que tenha saído de casa sem pintar o olho.
Para cada dia de TPM, me dê uma vitrine com sapatos lindos.
Já que eu nunca pedi milagres, faça com que minhas celulites sejam ao menos discretinhas.
Me dê saúde, tempo livre, silêncio. E que nunca falte O.B. na minha bolsa.
Nos engarrafamentos, faça com que eu ligue o rádio e esteja tocando minha música preferida. E que eu lembre da letra para cantar.
Dê forças para eu insistir que meus filhos comam salada, digam por favor e obrigada, limpem a boca no guardanapo, façam as pazes e puxem a descarga.
Cegue meus olhos para as sujeiras nos cantos e os brinquedos no meio da sala – eles vão estar sempre lá, isso eu já vi.
Ajude para que eu chegue do trabalho e ainda consiga brincar, ver desenho, contar história, fazer cosquinha, pintar dentro da linha preta. Ou fazer só uma dessas coisas. E se eu não tiver a menor condição de me manter em pé, faça com que meu filho chegue dormindo da escola.
Em dias difíceis, dê coragem e persistência para eu seguir na dieta.
Faça com que eu não esqueça de ligar para os meus pais e meus amigos.
Dê firmeza para os seios e para a hora do castigo.
Ajude para que o meu trabalho não seja bom somente no dia do pagamento.
Proteja minhas poucas horas de sono e não me julgue mal caso eu não acorde no meio da noite para cobrir meus filhos.
Não deixe que a minha testa fique tão franzida a ponto de parecer uma saia plissada. E eu, uma louca estressada.
Faça com que o sol seja meu personal trainer, meu complexo de vitaminas, meu carregador de bateria – mas quando eu pedir um diazinho de chuva, não pergunte por quê.
Para cada batata quente no trabalho, me dê um café recém-passado.
Entenda quando eu rezo para cancelarem uma reunião – não é gastar reza à toa, pode ter certeza.
No meio de tudo isso, faça com que eu ache tempo para virar namorada de novo, ir no cinema, jantar fora, beijar na boca, dormir abraçadinha.
Ilumine o espelho do banheiro e proteja minhas pinças, meus cremes e segredos.
Ajude a não faltar gasolina, não furar o pneu, não arranhar a calota. Afaste os motoqueiros do meu retrovisor. Proteja meu sorriso, meu humor, meu intestino.
Senhor, por pior que seja o meu dia, faça com que ele termine, e não eu."
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(Magali Moraes)